sábado, 17 de março de 2012

Tudo é nada. Nada é tudo

Hoje resolvi falar do nada. É, exatamente: nada. Vamos tratar de uma coisa que para a maioria não existe. Nada. O que é um nada? Vazio? Silêncio? Branco? Peguei-me pensando nisso e nada apareceu. Que coincidência, não? Ontem, vi um mendigo na rua e pensei: "Nossa, coitado, ele não tem nada." Mas quem é que disse? Isso é um pouco subjetivo. O seu nada pode ser o meu tudo.

No dicionário Aurélio a palavra é tratada assim: não existência, vazio, depois da morte. Mas quem é mesmo que decide o que vai para o Aurélio? Macacos me mordam! Se eu estiver errada! Como o tal cara que decide o que será escrito no pai dos burros pode saber que o nada é o que vem depois da morte? Acho que ele é muito religioso.

Conheci uma menina que dizia que o nada é tudo e que tudo é nada. Juro que fiquei pensando nisso e anos depois consegui compreender a filosofia. Universalmente consideramos o "tudo" ter: família, dinheiro, amigos, sucesso profissional, beleza, saúde e por aí vai. Na sociedade, se você não tem isso, estará bem lascado, com o perdão da palavra.

É a partir dessa ideologia que saímos às ruas olhando como inferiores os tais moradores delas: "Ah, esse morrerá logo, por que tenho que ajudá-lo mesmo?" Sem querer puxar farinha para o meu lado, sempre dou dinheiro para essas pessoas quando me pedem. Não quero pensar se elas vão comprar uma pinga no primeiro bar que encontrarem. Mas sim, que estou ajudando alguém a ser um pouquinho feliz (nem que seja para ter uma baita dor de cabeça depois). Quem é que disse mesmo que isso é errado? O tal cara do Aurélio? Claro.

Sonhos. Se você não os tiver, aí sim não terá nada! As coisas banais, as quais fazemos sem dar tanta importância, são os verdadeiros sonhos. Não as grandiosas demais, perdidas e que provavelmente não se realizarão (ainda mais porque você não levantará da cadeira para fazer isso). Muito pelo contrário, sonhos são aquelas pequenas coisas que pensamos realizar. Não são difíceis e que degrau por degrau são alcançáveis. É isso que deixa um ser humano feliz. Poder satisfazer os pequenos e simples sonhos da vida. Você saberá quando realizar um sonho: vai ter a sensação de contentamento, plenitude. Pode ser qualquer "besteira": pescar em um sábado de manhã, comer brigadeiro no inverno, tomar uma pinga no bar feio da cidade. Qualquer besteira é o que nos faz feliz. Qualquer nada nos faz feliz.

O mais engraçado dessa história, para não dizer irônico, é que se você tiver tudo o que ideologicamente consideramos perfeito, não vai gostar da ideia. Se perguntar para alguém que parece ter tudo (Brad Pitt) vai ver que ele estará insatisfeito com um bom par de coisas. E com certeza nem de longe vai achar que tem tudo.


Então não se preocupe em ter tudo, se você conquistar a cada dia o nada, um dia, perceberá que terá tudo e o nada ao mesmo tempo. A cada dia fazendo um "nada", terá uma vida de tudo. O seu tudo, apenas isso.

Rafaela Bernardino

Um comentário:

Nicolle Ribeiro disse...

Adorei Rafaela , belo texto!!!