domingo, 18 de março de 2012

Nove filmes e um documentário para estudantes de jornalismo

Faltando cerca de uma hora para o pouso em Newark, aeroporto da cidade de Nova Jersey, a comissária de voo da Continental Airlines perguntou: “Gostaria de ler as notícias do dia, senhorita?”. A manchete do jornal, o USA Today do dia anterior, destacava as baixas temperaturas no leste do país. Ainda naquela noite, no caminho para a Times Square (já que turista que é turista visita a rua mais iluminada do mundo já no primeiro dia), passei na frente do prédio do The New York Times. Você tem noção do que é isso? Poxa, é o maior jornal do mundo! Naquele instante, alguns dos maiores jornalistas do mundo estavam atendendo telefonemas como loucos, escolhendo as fotos de capa, trocando e-mails, tomando canecas e mais canecas de café, tudo isso para conseguir fechar a edição do jornal mais lido dos Estados Unidos. Sim, eu sei que essa é uma visão extremamente romântica do jornalismo e que as coisas não são bem assim. Se você fizesse uma enquete com calouros do curso de jornalismo, tenho quase certeza que 75% deles te descreveriam o ambiente da redação mais ou menos como eu na frase anterior. E a culpa é de uma instituição que gera bilhões de dólares e que tem muitos anos de história: o cinema. Sim, a culpa é do cinema.

Se você é estudante de jornalismo, deve ter a sua própria lista de filmes jornalísticos preferidos. Eu tenho a minha. Sim, eu sei que a maioria desses filmes explora um glamour inexistente em redações e que, na realidade, é tudo menos agradável. Não somos detetives viciados em café que têm insights sobrenaturais sobre o maior furo da história em uma noite chuvosa e que recebem ameaças de morte constantemente. Estamos mais próximos de viciados em internet, que checam e-mails o dia todo, que trabalham feito loucos, que escrevem sempre as mesmas notícias e que, no final do mês, ao checar a conta no banco se perguntam por que não fizeram medicina. Mas, em relação ao café, os diretores hollywoodianos acertaram: nós somos mesmos viciados.

A questão é que, glamourosos ou não, os jornalistas são personagens recorrentes nos cinemas. Afinal, correr atrás da “verdade” e descobrir os segredos do governo rendem boas histórias, não é? Abaixo, a minha lista dos melhores filmes sobre esse universo tão mágico e surpreendente que é o universo jornalístico.

Todos os homens do presidente (All the president’s men, EUA, 1976): Dustin Hoffman e Robert Redford, no papel dos repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, do The Washington Post, contam a história do caso Watergate, que levou à renúncia do presidente Nixon. O filme foi baseado no livro homônimo dos dois repórteres, que chegaram a receber um prêmio Pulitzer, em 1973. Curiosidade: a redação em que se passa o filme é a original do The Washington Post. Oito indicações ao Oscar, quatro conquistados. Um clássico.

Quase famosos (Almost Famous, EUA, 2000): Baseado nas experiências de vida do diretor Cameron Crowe, esse clássico contemporâneo conta a história de um talentoso jornalista adolescente que consegue uma oportunidade na revista Rolling Stone. Seu primeiro trabalho é acompanhar um show da banda Stillwater, mas sua paixão pelo rock e por uma groupie afastam-no da objetividade jornalística necessária para o trabalho. Com Kate Hudson e Philip Seymour Hoffman. Três indicações ao Oscar. Levou o prêmio de melhor roteiro original.
Cidadão Kane (Citizen Kane, EUA, 1941): Esse clássico de Orson Welles é obrigatório para todos, não só para estudantes e apaixonados por jornalismo. Welles produziu, dirigiu, escreveu e atuou nessa obra de ficção inspirada na vida do magnata da mídia William Randolph Hearst. O filme conta a história de Charles Foster Kane, o homem que construiu um império a partir do nada, mas que vivia uma vida pessoal extremamente ruim. É considerado um dos filmes mais importantes da história. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro.

A Montanha dos sete abutres (Ace in the hole, EUA, 1951): é a história de um repórter que tenta reconstruir sua carreira longe da cena jornalística nova iorquina. Em Alburquerque, no Novo México, um caçador de tesouros fica preso entre as rochas após o desabamento de uma mina. Percebendo a notícia que tinha em mãos, ele decide explorar no jornal em que trabalha o drama flagrante do soterrado, retardando o máximo possível seu resgate com o objetivo de manter a exclusividade da notícia. Com Kirk Douglas. Uma indicação ao Oscar.

Zodíaco (Zodiac, EUA, 2007): entre na redação do San Francisco Chronicles e se confunda com as cartas enigmáticas do assassino em série conhecido como “Zodíaco”. Os detetives e repórteres e a sua obsessão em descobrir a identidade do serial killer. Inspirado em uma história real. Com Jake Gyllenhaal, Robert Downey Jr. e Mark Ruffalo. Dirigido por David Fincher.

Rede de Intrigas (Network, EUA, 1976): O filme, dirigido por Sidney Lumet, conta a história do âncora de um telejornal que, ao receber a notícia de que seria demitido, declara a intenção de se suicidar no ar. Como a audiência sobe, a diretora decide mantê-lo no cargo. Curiosidade: Peter Finch já havia morrido quando foi indicado ao Oscar de melhor ator. Foi o primeiro a ser premiado postumamente pela academia. Uma crítica à busca incansável pela audiência.

Faces da verdade (Nothing but the truth, EUA, 2008): Com Kate Beckinsale no papel principal, o filme conta a história de uma jovem jornalista política que tem nas mãos uma informação confidencial que, se revelada, abalará as estruturas do governo. Quando as informações se tornam públicas, o Estado a obriga a revelar a sua fonte. Discute a questão da relação fonte-jornalista. Com Vera Farmiga e Matt Dillon. Inspirado em fatos políticos atuais.

Intrigas de estado (State of play, EUA, 2009): É uma adaptação para o cinema de uma série dramática da BBC exibida em 2003. Excelente filme sobre o mundo moderno do jornalismo. Um bom e velho repórter, uma blogueira, tecnologia, política e escândalo são os ingredientes da trama. Com Russell Crowe e Rachel McAdams.

O diabo veste Prada (The Devil wears Prada, EUA, 2006): Baseado no livro homônimo de Lauren Weisberger, o longa conta a história de Andy Sachs, recém-graduada que consegue um emprego como assistente da editora de uma das maiores revistas de moda do mundo. Meryl Streep interpreta Miranda Priestly, a editora maquiavélica que foi baseada em Anna Winotur, editora da Vogue USA. Duas indicações ao Oscar. Meryl Streep levou o Globo de Ouro de melhor atriz.

Page One: Inside The New York Times (EUA, 2011): O documentarista Andrew Rossi acompanha a batalha de repórteres e editores para colocar o jornal nas ruas todos os dias, em meio ao turbilhão econômico. A discussão gira em torno da viabilidade da mídia como conhecemos hoje, diante dos novos formatos de comunicação. Lançado no Sundance Film Festival de 2011.
 
Bruna Carolina

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