Antes que a morte levasse o poeta do Rock daqui, eu sequer existia. E isso é motivo suficiente para entendermos como ele leva umas 600 pessoas para o John Bull. E por que diabos eu falaria dele senão por admiração? E mais, por que diabos alguém se prestaria a tributar Cazuza? A resposta é simples: Cazuza não respira, mas ainda fala. E fala bem, fala bonito, protesta, teoriza, brinca, zoa, ama e faz amar.
Eu estava ansioso pelo show de Valério Cazuza. E acompanhado por Teixeira e com um empurrão da Rock Produções conseguimos ao fim de uma apresentação eletrizante entrevistar o cover. Cover? Que nada! Alcoolicamente alterados, era como se estivéssemos frente a frente do ídolo. Enquanto sonhamos, tudo parecia muito real.
Teixeira: Por que fazer o cover do Cazuza? O que te inspirou a fazer isso?
Valério: Eu tinha uma pizzaria, era extremamente tímido e não tinha uma vida social muito ativa, mas conhecia um Karaokê lá em Niterói e comecei a cantar algumas músicas. Não era fã do Cazuza, mas quando eu cantava Cazuza todo mundo batia palma. Até que um músico conhecido lá de Niterói falou que iria montar uma banda. Nunca fui músico e nem toco instrumento nenhum. As coisas acontecem na vida assim mesmo.
Teixeira: Você se identifica com a figura do Cazuza?
Valério: Não com a figura, mas com a mensagem que ele deixou. A figura eu passo no palco. O Valério, na verdade, depois que passa o gorozinho é outra pessoa.
Horácio: Você fez muita pesquisa para parecer com ele?
Valério: Eu fiz sim, fiz pra ter essa performance e pra fazer o melhor possível. As pessoas buscam o personagem para lembrar de uma época. Eu tento o máximo de perfeição, de detalhes, de figurino de trejeitos.
Horácio: Quem eram os músicos favoritos antes do cazuza?
Valério: Eu ouvia muito MPB, rádio, me emociono muito com músicas que falam de amor, de uma forma mais poética. Gosto mais da fase B do Cazuza, da fase da carreira solo. O rock eu me amarro, a galera se amarra, mas é muito teatro. Gosto muito quando fala de amor. Meu pai foi um grande poeta, um crítico de Jorge Amado e tudo. Teve 12 livros publicados.
Teixeira: Que ano você nasceu?
Valério: Em 1977, mas eu tenho um detalhe aí que eu acho que é uma coincidência muito grande. Minha mãe se chama Lúcia Araujo também, Lucia Damazio de Araujo. Nome da mãe do Cazuza. É uma coincidência do caramba isso.
Teixeira: Então, você tem a mesma desenvoltura no palco que o cazuza tinha, como você conseguiu isso?
Valério: Não era assim. Eu descobri meu eu buscando o Cazuza, eu descobri o meu eu muito semelhante. Na verdade, o Cazuza me serviu como uma muleta pra eu descobrir um novo eu.
Horácio: Uma nova e melhor vida? Chega a ser melhor?
Valério: Diria que sim. Eu conheci um Valério mais solto, mais amoroso. Era uma Valério retraído, tímido, com medo da vida. O Cazuza me fez não sentir medo e passar essa mensagem para as pessoas me faz um bem danado.
Horácio: Que coisas você começou a fazer depois que apareceu o Cazuza? Cigarro, por exemplo, já existia?
Valério: Já. Eu quero para com os vícios. Ainda me prendo muito ao cigarro e bebo. Um dia quero parar com tudo.
Teixeira: Então o Cazuza na música 'mais um dose' pega o copo no palco e tal...
Valério: É, mas eu dou um outro contexto. Costumo falar nos meus shows que eu ofereço mais uma dose pra todo mundo por minha conta e quando a galera se empolga na verdade eu tô oferecendo mais uma dose de amor e esperança que é isso que a gente tá precisando mesmo.
Valério: Sociedade? As pessoas sofrem muito né?! Sofrem muito por mais que tenham muito. Acho que as pessoas precisam se achar, achar os valores da família, do amor, da troca, se colocar no lugar do outro. Acho que é isso que tá faltando. A gente não precisa de muito pra viver né?! Um trocado pra dar garantia e um remédio anti-monotonia, sonhos, amor, garantias de felicidade.
(Nesse momento, o segurança interrompe a entrevista para expulsar um ser humano que fumava no camarim)
Valério: Eu também estava fumando, mas eu joguei fora. Fui mais esperto!
Nícolas David
Thaís Teixeira
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