quinta-feira, 15 de março de 2012

A peste de Buda!

Era sexta-feira, 13, de uma manhã de novembro, no ano 2009, na cidade húngara de Budapeste. Minha mãe e eu estávamos há quase um mês percorrendo a Europa, os primeiros dez dias sozinhos, de carro, pela Itália; e há quase quinze dias com um grupo de turistas num ônibus visitando o Leste e Centro Europeu. Com o carro, apesar de não conhecermos praticamente nada do norte da Itália, nos aventuramos e desbravamos desde cidades pequenas, como Vicenza, até metrópoles agitadas como Milão. Tudo deu certo enquanto estivemos sozinhos, apesar do medo de um acidente, de um assalto ou até de ser perder nas ruelas italianas e não conseguir achar o rumo certo.

Um mês antes da viagem à Europa, eu tinha estado no Rio de Janeiro com meu pai. Foi naquela semana em que traficantes cariocas abateram um helicóptero da polícia (fato marcante na história do Rio) e, pela TV, a impressão que se tinha, era de que a cidade estava vivendo uma verdadeira guerra civil. Não vi absolutamente nada de anormal na capital fluminense naquela semana, apesar de que, naquela oportunidade, não tenhamos visitado apenas os famosos - e seguros - bairros da Zona Sul. Não, nós ficamos percorrendo o centro e a região de Santa Teresa, lugares nem sempre frequentados por turistas, para conhecer um pouco mais do dia a dia do carioca. Não vi nada de errado e em momento algum senti medo no Rio de Janeiro.

Pois, voltando àquela fatídica manhã de outono em Budapeste, às margens do Danúbio, na véspera da festa da unificação das cidades de Peste e Ôbuda – que, em 1873 se juntaram e passaram a ser chamadas apenas de Budapeste -, enquanto nos acomodávamos no ônibus de turismo que faria nosso traslado até Viena, na Áustria, eis que, num passe de mágica, nossas bolsas somem com todos os nossos documentos, cartões de crédito e, o pior de tudo, com todo nosso dinheiro! Não ficamos com um só centavo!


Não desejo a ninguém a experiência de se encontrar num país distante, que fala uma língua totalmente distinta (como alguém traduziria nomes como Káposztásmegyer ou Kisszentmihály?), sem dinheiro, sem lenço e sem documentos! Fomos levados – como se fôssemos bandidos– pela polícia húngara, numa viatura velha, no banco de trás (diga-se de passagem, partido ao meio), até a delegacia. Talvez herança da época em que era comunista – até 1989 -, os policiais não se esforçavam em nada para falar o Inglês – idioma mais capitalista que já conheci.

Depois de muito diálogo – que até hoje não sei em que resultou, afinal, não os compreendi e eles não devem ter nos compreendido -, a polícia nos encaminhou até a Embaixada do Brasil, na outra margem do Danúbio – desnecessário dizer que a Embaixada havia mudado de lugar há poucos dias e que passamos algumas horas procurando o socorro brasileiro. Nossa sorte foi ter constatado que os serviços consulares funcionam, sim, no exterior e com muita eficiência. Em poucos minutos, o Vice-Cônsul tinha em mãos nosso documento de autorização para retorno ao Brasil (sem ele, não conseguiríamos ingressar na nossa Pátria-mãe, não conseguiríamos provar que éramos brasileiros!). Também conseguimos algum dinheiro, enviado pelo meu pai – que estava em São Paulo– através da conta de um funcionário da Embaixada.

Os quatro dias seguintes em Viena foram decadentes. Andamos de metrô sem pagar, só assistimos à shows e apresentações gratuitas e comemos apenas no Mc Donald’s, numa tentativa desesperada de economizar!

É pouco divulgado por aqui, mas a Hungria foi um dos países mais afetados pela crise econômica internacional dos últimos anos. A quantidade de assaltos, furtos e roubos – especialmente a turistas – se alastrou como uma verdadeira peste na região. Ainda assim, recomendo a viagem! Budapeste é linda!

Crédito da fotos: Leonardo Contin da Costa
Leonardo Contin da Costa

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