sexta-feira, 23 de março de 2012

Conversa de elevador

Na paranoia dos números, o vinte e três sempre encontra seu lugar. O pai das teorias das conspirações, um bruxo numérico, um agente da besta; um simples símbolo de um dois seguido por um três. Este signo herdado dos alquimistas do oriente, este algarismo indo-arábico presente na psicose humana, do fim do mundo a fenômenos naturais, apresenta em seus significados a coincidência ou divino trabalhando. Em um eixo de 23 a terra gira, vinte e três são os axiomas na geometria de Euclides, no corpo humano são 46 cromossomos, 23 de cada pai, o Estopim teve origem em um 3 do 10, às 14:04 (3 + 10 + 14 - 4 = 23), dos problemas na famosa lista de David Hubert's, ao todo, constam vinte e três, e o menos importante: o sinal, em nossa contagem dos meses, que correspondente aos dias. Hoje é vinte e três!

Em um dia vinte e três, o Bardo de Avon, um dramaturgo inglês, nascia para ser eternizado com seu teatro popular. Em um vinte e três, um corso feito imperador da França, um Bonaparte, denominado Napoleão, rompia com a igreja renegando a concordata com o papa. Igualmente em um vinte e três, soldados em Iwo Jima levantavam a bandeira americana, perpetuados pelas lentes Joe Rosenthal. Também em um vinte e três, cientista descobriam o quark top, o que não sei ao certo se realmente é um acontecimento importante, afinal, nem sei o que diabos em um quark top. E por fim, da mesma forma em um dia vinte e três, nada de importante, digno de lembrança, aconteceu comigo.

Vinte três não tem nada de mais. Pode ser seu aniversário, do seu primo, ou da Paula Toller, nada muda na minha vida! Nem mesmo a folga da terra de Floriano, essa solenidade em nome da fundação da antiga Desterro. De minhas pesquisas sobre os vigésimos terceiros dias de cada mês, me peguei aflito, somente na hipótese de que UM vinte e três pudesse não ter acontecido, o de 1857, quando foi instalado o primeiro elevador para pessoas.

Ao primeiro momento achei mais uma bobagem, afinal, moro em uma casa, e tive que garimpar minha memória para saber a última vez em que entrei em uma máquinas destas. Fiquei surpreso ao saber que já fazia uma semana, e mais ainda ao lembrar que foram as onze da noite. Mas mesmo assim, ignorei o número e fiquei imaginando como o preguiçoso dentro de mim se sentiria se essa magnífica invenção não tivesse sido criada. Fantasiei seu sisudo inventor, Elisha Graver Otis, com suas compridas barbas, no edifício que fazia esquina com a Broome Street, em Nova Iorque, adentrando o equipamento com um operário do lado. Vi os dois no interminável minuto que o elevador demorava para subir somente cinco andares; Elisha, impaciente, esfregando as mãos e olhando para os lados, e o operário pendendo o corpo entre a ponta dos pés e os calcanhares, quando de repente, presenciei em minha ilusão, a primeira pergunta sobre o tempo feita dentro de um elevador.

Ri sozinho de minha própria tolice. O esperado clichê agindo na imaginação. Claro que pensei em algumas situações improváveis, lembrei-me até das peripécias de Remi Gaillard, mas o clichê era sempre mais forte. Essa estranha e constrangedora situação, que de vez em quando, acontece na vida real, a troca de informações meteorológicas enquanto esperamos que aquela caixinha de metal nos locomava, para cima, ou para baixo.

Mas de onde raios vem essa associação entre falar do clima e o fato de estar dentro de um elevador? Por que algo dentro de nós deseja se comunicar dentro daquele cubículo? Por que simplesmente não calar-se? Será o elevador um caixa mágica atemporal que reúne em nós o medo de ficarmos eternamente mudos, mas tendo com quem falar? Será simplesmente querer mostrar que sabemos nos comportar na frente dos outros, exatamente como mamãe ensinou? E por fim, por que somente no elevador? Porque não perguntamos sobre o tempo no banco das praças, nos táxis? Será uma força maior?

Saibam, meus caros, que o dia vinte e três de março, além de marcar a instalação do primeiro elevador, é também o dia mundial da meteorologia. No final, parece até uma piada muito bem armada. Coincidência? Mistérios sobre o número vinte e três? Sei lá! Foda-se! Mal entro em elevadores mesmo. Só tomara que não chova amanhã de novo.

Gessony Pawlick Jr.

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