quinta-feira, 29 de março de 2012

Comunidade Frei Damião na UTI

C. de A. tem 25 anos, é mãe de cinco filhos e mora no bairro Frei Damião, em Palhoça. Desde outubro do ano passado, queixa-se de dores de cabeça e tosse constante, falta de ar, cansaço e perda significativa de peso (em três meses, perdeu 20kg). Já teve tuberculose em 2004 e, em seus exames, consta uma lesão extensa em um de seus pulmões.

Depois de muito tentar sem sucesso, em meados de dezembro conseguiu uma consulta no posto de saúde de Frei Damião, onde foi encaminhada por uma enfermeira para o Posto de Referência em Tuberculose. Neste posto, foi atendida por um Infectologista, que a avaliou e solicitou exame de escarro. O Médico a encaminhou de volta para o posto de Frei Damião, sugerindo que investigasse Asma, pois a Baciloscopia de Escarro havia sido negativa.

Novamente uma batalha para conseguir ser atendida no posto de saúde do bairro onde vive, em Palhoça, para dar continuidade às investigações acerca de seu estado de saúde. Desde dezembro, tentou, em vão, agendar nova consulta, só conseguindo atendimento no início deste mês – praticamente três meses suportando, sem qualquer perspectiva de ajuda do serviço público de saúde, as dores e o mal estar provocados pela doença que possui. Para conseguir ser consultada, foi informada que deveria chegar de madrugada ao posto de saúde para conseguir uma ficha na fila de espera. Ocorre que, além das dores, da falta de ar e da dificuldade para caminhar, C. de A. tem cinco filhos menores, um deles ainda sendo amamentado, e não tem com quem deixar as crianças, eis que seu marido trabalha durante todo o dia.

Através de pessoas amigas, foi agendada uma consulta com um Pneumologista no Hospital Nereu Ramos, onde foi solicitado novamente o exame de escarro. Na última quinta-feira, 22 de março, tomou conhecimento que está com Tuberculose +++ (as três cruzes indicam forte positividade no exame).
C. de A. vive numa casa de dois cômodos com seu marido, os filhos, o sogro e a irmã. Toda a família agora terá que se submeter aos testes para verificar se também não está infectada com o Bacilo de Koch.

A história, fato real que está se desenvolvendo bem perto da Unisul, gera diversos questionamentos: como pode uma paciente com Tuberculose levar quase cinco meses para receber o diagnóstico e iniciar seu tratamento, uma vez que trata-se de uma doença transmissível que necessita de medidas de controle imediatas? Como os profissionais de referência para Tuberculose liberam, sem maior investigação, uma paciente com todos os sinais e sintomas, inclusive história anterior da doença? Durante todo este tempo em que a paciente não foi corretamente diagnosticada, quantas pessoas podem ter sido infectadas pelo Bacilo de Koch, após entrarem em contato com C. de A.? Quantas pessoas estão sem acesso à saúde em Frei Damião, onde deveria haver uma ação efetiva de Equipes de Saúde da Família, com busca ativa, diagnóstico precoce e tratamento supervisionado, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde? Quantos outros moradores do bairro já não morreram por falta de diagnóstico adequado ou, até mesmo, por falta de consulta e orientação médica?

Leonardo Contin da Costa

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