sábado, 31 de março de 2012

Às avessas do sistema


No dicionário, a palavra imprimir significa deixar um sinal, uma marca em algo. Partindo deste pressuposto vemos a manipulação da informação agindo ao contrário. Cheio de seus "cartéis" financeiros, os poderosos usam e abusam de suas poses para impedir que outro sinal seja dado, e que tenha efetivamente um significado para os indivíduos. É o poder de imprimir a expressão.
Não é difícil analisarmos esse quesito. Coloquemos o telejornal RBS Notícias (transmitido às 19h, pela emissora RBS) frente a frente com RIC Notícias (transmitido às 20h, pela emissora RIC Record). Muitas notícias fornecidas no primeiro não são prioridade ao segundo. Mas por que essa diferença? O critério do que é notícia não é conhecido mundialmente? Segundo o glossário do livro Manual de Telejornalismo, de Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima, a notícia é um acontecimento que interessa à sociedade. Mas fica o questionamento: quem é mesmo que decide o que é interessante? É o ponto onde encontramos os que tem dinheiro para imprimir. Um caso que envolva o diretor da emissora não pode ser levado ao ar, mesmo que seja de interesse social. O que está disponível para nosso acesso é apenas aquilo que querem que todos saibam. Portanto a liberdade de exprimir é corroída pela ação de imprimir.
Historicamente vemos vastos exemplos de como o poder de entidades podem destruir o livre respirar das informações. No entanto, a ciência de que nem tudo pode ser controlado por dinheiro é essencial para vermos o outro lado (e não menos forte) da voz popular.
A desenfreada postura de aniquilar a comunicação em prol de um sistema é limitada. Enxergamos isso, claro como água, na campanha das Diretas Já, em Abril de 1984, conhecida por acumular mais de 1 milhão de pessoas no Viaduto do Chá e no Vale do Anhagabaú (Rio de Janeiro). A empreitada começou com o carimbo do dono de uma emissora famosa em todo o Brasil (nada de dar nomes aos bois), em não divulgar qualquer notícia sobre o acontecido. Mostramos então o poder de imprimir, muitas vezes não só de interesse de terceiros, mas também, do próprio meio em que ela deveria ser protegida.
O poder quase absoluto dessa emissora em distorcer a opinião popular não fora tão substancioso quanto aparentara. Para o azar dela, o movimento se estendeu por vários cantos do Brasil e adquiriu mais força para a democracia com a junção de estudantes, intelectuais e movimentos sindicais. O clamor foi tão intenso que escrachou a manipulação para todo o país. Este acontecimento só veio demostrar como nem sempre o poder de imprimir sobressai à expressão. Um indivíduo ou um conjunto deles podem encontrar limites no que chamamos de força popular. Afinal, a voz da massa tem mais força que qualquer outro meio.

Rafaela Bernardino

Um comentário:

Thaís Teixeira disse...

Bem colocada a questão dos monopólios de mídia, principalmente aqui no estado (RIC x RBS). As vezes as noticias e fatos pouco importam se não trouxer um retorno financeiro e não atender a linha editorial desses veículos. Ainda bem que existem as mídias alternativas, estudantis e comunitárias.