quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Somos clientes ou somos palhaços?

Apesar de saber que corro sério risco de perder a cadeira no Estopim pela repetição com este assunto – até o fim da semana devo ser chamado na diretoria deste periódico para pedir as contas -, continuarei falando sobre carros. Afinal, enquanto não estou sob a égide de um patrão que cortará minha retribuição pecuniária caso eu insista deveras nesse tema, devo aproveitar para escrever sobre aquilo que sinto prazer – ainda que o notável colega e revisor Horácio venha a se enfadar.

Minha indignação com o tema hoje não se volta contra as montadoras ou o governo, mas contra aqueles que estão na ponta da cadeia do negócio automotivo: as concessionárias e seus vendedores - obviamente minha crítica não se refere a toda a categoria, pois há profissionais éticos, bem informados e que jogam a verdade aos seus clientes.


Desde pequeno, pelo fato de ser um leitor assíduo de revistas automotivas (coleciono a Quatro-Rodas desde os seis anos), sou chamado por amigos e parentes para acompanhar a troca de seus carros. E não é de hoje, tenho a impressão que os vendedores de automóveis são alguns dos profissionais mais anti-éticos da sociedade. Talvez até exista algum código de ética para eles, mas parece ser cada vez mais raro encontrar profissionais que sejam sinceros com o consumidor.

Exemplos? Contarei três. Nunca me esqueço, no ano 2000, quando uma amiga foi comprar um Fiat Palio 0km. Diante daquilo que revistas especializadas e os flagras de carros de testes da montadora anunciavam, alertei que o modelo mudaria muito em breve. Porém, chegando na concessionária, o vendedor, no afã de ganhar sua comissão, foi taxativo: "até 2002 o Palio continuará o mesmo! As revistas estão mentindo" Dei uma risada e queria apostar com ele que em um mês o Palio mudaria, mas me controlei, pois, afinal, ele fazia o jogo da venda. Dois dias depois, a Fiat anunciou com toda a pompa o lançamento da segunda geração do Palio – qual não foi a minha vontade de passar na concessionária e dizer que, enquanto vendedor de automóveis, ele estava por fora do mercado.

Nesta semana, acompanhando a compra de outro automóvel 0km, o vendedor bradou: "o Renault Fluence foi o sedan médio mais vendido em 2011, desbancou toda a conorrência". Eu ri do discurso. Ele insistiu, dizendo que o carro "é o campeão de vendas também em 2012". Ainda bem que inventaram a internet no celular e pude comprovar, diante dos números apresentados todos os dias pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), que o Fluence foi apenas o 8° sedan médio mais vendido do Brasil em 2011 e apenas o 5° em 2012. Talvez não seja nenhum pecado errar sobre números de vendas de um automóvel e isso não influencie muito na decisão de um sujeito normal que comprará o modelo, mas é interessante observar que eles nunca erram para pior.

Já na concessionária Toyota, na mesma semana, o vendedor fez questão de se gabar com o primeiro lugar do Corolla no comparativo com os sedans médios na edição passada da Quatro-Rodas. Tratei de corrigi-lo no mesmo instante: o Corolla foi apenas o último classificado numa disputa com outros seis concorrentes. Fiquei sem entender o porquê do sujeito inventar uma informação falsa para vender o modelo se há tantas qualidades a se destacar sobre o carro.

Trouxe à tona apenas três exemplos de vendedores de conduta não tão ilibada, mas outros tantos estão espalhados na cidade - não custa reiterar: há exceções. Insisto naquela velha máxima: cobramos lealdade, verdade e fidelidade dos políticos, mas aqui na terra, na primeira oportunidade, o cidadão faz de tudo para se dar bem e enrolar o sujeito ao seu lado, fazendo-o de palhaço. Continuamos sem qualquer moral para cobrar dos políticos!


Leonardo Contin da Costa

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