quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Opulento Desperdício

Quinta-feira, cinco de janeiro de 2012. Às duas horas da tarde, ando pelas ruas a caminho de casa e ouço um barulho de água. Acelerei o passo e a cada centímetro intensificava o som da enxurrada. Parei, procurei a localização, estava na Souza Dutra quase com a Liberato Bittencout, quando percebi um bueiro e nele transbordava uma quantidade absurda de água. Pensei: Algo errado está acontecendo aqui.

Atravessei a rua, a placa me referenciou Condomínio Continental, cliquei naquele botãozinho de portaria. Ninguém atendeu, sentei na calçada e esperei meia hora, nada - e a água continuava caindo rua abaixo. Então, o velho porteiro sai com uns jovens rapazes uniformizados. Nas costas: Coqueiros- Limpeza da caixa d'água. Perguntei ao porteiro se ele teria um minuto para me informar o porquê daquela água estar vazando em uma das ruas mais movimentadas do Bairro Estreito. O senhor me explicou que estavam fazendo limpeza da caixa d'água e contrataram uma empresa terceirizada para fazer o serviço, quando os rapazes chegarem a caixa estava quase cheia e resolveram esvaziá-la e, por isso, estariam despejando a água reserva do bombeiro também.

Assim que terminamos nossa conversa liguei para a Casan. Alguma providência deveria ser tomada. A primeira moça que me atendeu disse que aquele não era setor responsável por atender às denúncias e transferiu para outro ramal. Contei o caso a segunda funcionária, a resposta foi curta e grossa “Não podemos fazer nada, não estamos em alerta para o racionamento de água, o prédio que vai pagar o desperdício e nada mais”.

Resolvi falar com a síndica, Dona Maísa, ela me explicou que teve que autorizar para que a limpeza fosse realizada, caso contrário, o prédio que compõe quatro caixas da água: duas cisternas e duas subterrâneas ficaria sem a lavagem da caixa e isso prejudicaria 52 apartamentos, aproximadamente 156 pessoas, é quase a quantidade de moradores de uma das travessas da rua Souza Dutra.

Cheguei a minha casa e não haveria mais saída, esse caso passaria despercebido, pois se nem o órgão responsável poderia fazer nada, o que eu poderia fazer? Então lembrei o que a Porto sempre diz em sala de aula “O jornalista tem nas mãos o 4º poder, mesmo não sendo essa a nossa função, resolvemos as coisas mais rápido que os outros poderes” Escrevi um release complementado - já que sou aspirante a jornalista e não a publicitária - e enviei para uma grande quantidade de veículos de comunicação de Florianópolis, incluindo, Diário Catarinense, Notícias do Dia, Portal da Ilha, Adjori e outros nem tão famosos. Alguns, a grande minoria, respondeu que não poderiam publicar, pois o assunto era “delicado”. E como esperado os grandes não fizeram nem questão de responder.

Assim achei que o Estopim era o veículo certo para publicar assuntos indelicados, ou polidamente pouco delicados. A questão é trazer que as grandes mídias e os jornalistas ecochatos sempre levantam a bandeira para grandes causas ecológicas, como o novo código florestal, a usina de belo monte, mas quando temos desperdício de água na nossa cara já não é tão importante assim, como se o impacto no meio ambiente fosse menor. Como quase 50 mil litros de água potável são eliminados e ninguém divulga ou noticia?

Virou clichê dizer, mas vou repassar mesmo assim apenas 2,5% da água do nosso planeta é doce e a maior parte está nas geleiras. Em uma capital onde a distribuição de água é desigual na alta temporada para não faltar água na Ilha cortam no continente, litros de água potável são eliminados e nada se pode fazer sobre isso. É revoltante saber que, mesmo com todas as campanhas de conscientização, as pessoas ainda não fazem sua parte. Como dizia Marquês de Maricá- A impunidade é segura, quando a cumplicidade é geral.

Crédito das fotos: Bianca Queda
Bianca Queda

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