segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Entre um Marlboro e um Dunhill

Esta é a primeira vez que inicio um texto convicto de que minha mãe não se orgulhará dele. Lia há poucos dias que o álcool é a droga que mais atrai o ser humano para outros vícios. Quem me contou foi o colunista da penúltima página da Zero Hora, Paulo Sant’ana. Para defini-lo nem me esforço: viciado em cigarro, cancerígeno, excelente escritor, velho dos bons. Não que uma dessas características estejam relacionadas e sejam a fórmula para o sucesso, mas no caso dele sim. Boa gente o Sant’ana. Enviei um e-mail a ele dia desses para propor-lhe uma entrevista. Ainda não chequei se ele me respondeu, de certo não.

Meu primeiro cigarro foi numa festa julina. Eu estava bêbado – Sant’ana tinha razão – naquela noite e fumei dois ou três. Os primeiros Free Light depois um Carlton. Os amigos conseguiram me influenciar e, para eles, eu começava a fumar ali. Mas não! Estabeleci comigo a ideia de que fumaria apenas 100 cigarros. Míseros, não me farão mal. Semanas depois, bêbado novamente, fumei um Camel. Bonito maço dessa marca, esteticamente falando, é claro.

O quarto e o quinto foi nessa mesma noite. Depois o sexto até que pasmem, havia dois cigarros em minha boca, o sétimo e o oitavo. Não consigo mencionar a quantidade de fumaça. Quem me vê fumando não sabe que eu não fumo. Eu não me preocupo em dizer, digo-lhes que fumo e está acabado. Vou dizer a eles que é pela literatura? Jamais!

Fumei o décimo e o 11º, sempre registrando na caderneta as marcas. O 12º cigarro foi o primeiro que fumei sem estar com os rins abastecidos de mijo. Mas estava muito cansado. Faz sentido, só um perfeito retardado, desorientado leva cigarros à boca.

Tragicamente meus planos caíram por água abaixo. Não porque estou viciado no cigarro, mas porque numa bela noite de quinta-feira eu perdi as contas. Sei que estou próximo do trigésimo. A essência do negócio, entretanto, morreu. Por que motivo eu continuaria fumando se o que desejo é chegar ao centésimo? Aliás, queria chegar ao centésimo aos 60, já próximo do infarto porque queria produzir esse texto ao longo dos anos. Literariamente amadurecido e pateticamente fragilizado pelas tosses secas.



A ansiedade de escrevê-lo, bem como a vontade de fumacear a roupa rapidamente, fizeram-me perder o controle da situação. Não posso negar que foi boa a experiência e não de todo frustrante. Mas, que sou um tremendo babaca de ficar agora entre um Marlboro e um Dunhil, tenho plena consciência.

Nícolas David

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