segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Cinéfilo anônimo e literatomaníaco

O que eu estou querendo dizer é que tenho procurado assistir filmes e que, há tempos, gosto de ler. Na verdade, sempre preferi o hábito da leitura ao do cinema porque o segundo exige acompanhamento da trama e da legenda. Enquanto que o livro parece prazeroso. Como leitor, me sentia tão responsável pela obra quanto Hemingway, Gabito, Fitzgerald. Eles me contam fatos, mas eu decido como enxergá-los.

O filme vem pronto. Wood Allen, Steven Spielberg e afins constroem as imagens que quiserem e nós prestamos atenção, ou não. Já dormi no cinema. Também já dormi lendo, mas porque relaxei e não por déficit de atenção. Pelo amor de Deus, não quero hierarquizar os livros e o cinema. Eles são, na verdade, diferentes e incomparáveis. O cinema pode ser difícil, por exemplo, para quem não domina a língua inglesa. Por isso, é fundamental que a Globo reprise Lagoa Azul com dublagem. Muitos de nós ainda não decoramos as falas das personagens, outros sim.

Li, não lembro aonde e nem se me esforçasse recordaria, que o escritor é dono da sua obra até que o leitor se aproprie dela. No cinema, isso não existe. Ilustremos: cinco seres humanos assistem ao mesmo filme. Eles verão as mesmas imagens, entretanto, com relação a trama, as percepções serão diferentes. Agora, cinco seres humanos leem o mesmo livro, cada um deles construirá imagens distintas. A personagem principal, por exemplo, pode ser descrita como bonita. Para mim uma loira, para você uma morena. Mas o entendimento da trama será comum aos cinco leitores.

Ambos são ótimos espelhos da sociedade. Entramos, em 2012, preocupados com a possibilidade do fim do mundo e o cinema, através da atenção que o cineasta Roland Emmerich deu aos maias, contribuiu para isso. Se morreremos eu não sei. Espero que não, puxa vida, ainda quero tomar muitos cappuccinos. Se acabar, o cinema retratou com êxito algo que a sociedade só teme. Há um exemplo ainda melhor. Tolstói descreve a sociedade russa, do século XIX, de modo magistral em Guerra e Paz. Vale conferir como.

No mais, Florianópolis tem bons livros e filmes a nossa disposição. A biblioteca pública está bem localizada no Centro da Capital. Basta realizar um cadastro, não me pergunte com que documentos. É possível ler até a morte. Para quem ainda não se descobriu literatomaníaco, a escola é a fonte, mesmo as públicas têm valiosas obras. Basta fuçar. Em uma delas, encontrei a série vaga-lume. Marcos Rey e eu escrevemos muitos livros juntos. Trabalhávamos para o público infanto-juvenil.

Já o cinema, talvez seja menos acessível, mas ainda assim, existem três shoppings com muitas salas para nos estressarmos com a problemática das legendas. A grande Florianópolis tem ainda mais opções.

Por fim, é notório que há cultura por aqui e por ali. Ela é falada, desenhada e escrita. Nossos conterrâneos, entretanto, é que procuram pouco. Nem menciono a procura por jornais impressos, pois me vêm um embrulho no estômago e uma preocupação salarial. Para não entrar em crise, calo-me.

Nícolas David

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