sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Anonymous Boulevar

um romance noir na era cibernética

Trilha sonora:

Maurício já me avisara, assim como fizera a muitos outros, mas infelizmente nós não demos muita importância. Agora ele está longe, e a única coisa que me resta são um amontoados de textos e recortes, anexados a uma pasta, que não sei até onde provam o que está acontecendo. Havia ouvido, pela rádio-patrulha, ao final desta tarde, que mais um estabelecimento tinha sido fechado e que mais alguns presos haviam-se feito. Eu conhecia o local, e a meus olhos não havia maldade, sabia sim, o que faziam lá, e não era só uma questão de moralidade; se fosse a alguns anos atrás, nada teria acontecido, mas agora estamos em guerra, uma silenciosa guerra sem rostos.

São 23:10 de uma quinta-feira. Aqui no meu quarto, com pouca luz, penso que não sei mais até onde estamos protegidos, janelas e venezianas são a únicas coisas que separam a todos dos homens com mascaras de Guy Fawkes e seus inimigos do Protect-IP, estes confortavelmente abrigados detrás de suas leis e distintivos. Confesso que antes de terça-feira dessa semana, quando recebi os primeiros anexos de Maurício, ainda não havia notado como estavamos imersos nessa rede de intrigas, porem logo me veio a cabeça alguns velhos endereços comuns que encontrei fechados nos últimos dias; na hora não encarei com estranheza, mas agora, após ler com atenção o que continha no envelope, faço a conexão. Os documentos que chegaram até mim naquela tarde chuvosa, apresentavam uma realidade um pouco distante, envolvendo poderosos nomes, uma mafia de logotipos, querendo manter sua soberania, mas era irrefutável que já estavamos sendo atingidos neste fogo cruzado.

Na quarta feira, inquieto, fui até o porto, confirmar um pouco do que eu havia lido. É um lugar perigoso não só por sua irrefreável torrente, mas pelos hábitos virulentos facilmente encontrado nos endereços de lá, é um lugar barra pesada, tem que saber onde se mete o nariz. Saí sem danos, e o mais exclarecedor que consegui foi o relato de marinheiros suecos da embarcação Piratbyrån, todavia as barreiras do idioma me impediram de compreender com clareza. Andando sem rumo, naquela mesma noite, encontrei outras consequencias daquilo que Maurício chamara de "uma guerra cibernética em plena maturação", textos, videos, protestos, infestavam os canais, algumas pobres almas, jogadas em velhas redes, já se preocupavam com o incerto futuro por vir. Eu notava, com tudo aquilo, que não eramos somente peões, serviamos de mapa aos farejadores dessa mafia, que mais parecia uma espionagem surreal de um romance de George Orwell.


Dali em diante foi inevitável não seguir as pistas, elas começaram a aparecer para os olhos mais atentos, ataques, prisões, Identidades e Pessoas apagadas, S.O.P.A. envenenada, queima e sumisso de arquivos, pragas, sabotagens, estavam todos ali, em volta de nossas pacatas vidas, cutucando nossa atenção, tornando-se um espetáculo compartilhado, mas ao mesmo tempo, camuflado, vendendo-se de forma inofensiva, com poucas imagens e menos de 140 caracteres. Era dado importância barata a todos esses acontecimentos, escandalos eram mais atrativos aos olhos de uma população faminta por entretenimento instantaneo.

Fico meio nostalgico agora, sabendo que esse mais um daqueles casos sem solução, que só o tempo nos trará respostas. Lembro-me ainda de quando estes campos e sítios eram tranquilos, e não ameaçavam nossa liberdade de expressão, não organizavam protestos, não inflingiam ataques nem confusão. Não quero eleger juris de valor aqui, dizendo quem está certo ou errado, pois indiferentemente, já tomei meu partido; só pretendo agora terminar meu copo de uísque e preparar-me para guerra que está por vir.

Gessony Pawlick Jr.

Um comentário:

Rafa Bernardino disse...

Ficou demais esse, em! Inovação com o audio ficou a combinação perfeita! Aprovadíssimo.