quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A outra face do Parque de Coqueiros


A dica de Soares para “um descanso no meio do caos” é excelente! O Parque de Coqueiros é lindo, tem uma das vistas mais privilegiadas da cidade (de frente para o mar, as pontes e a ilha de Santa Catarina) e vive repleto de famílias buscando qualidade de vida e contato com a natureza. É um oásis de paz no meio do caos, espaço verde de lazer raro na cidade, mas nem tudo são flores por ali.

Para entender um pouco melhor a história, é preciso voltar pelo menos quinze anos no tempo, época em que o local era chamado de “Saco da Lama”, espaço conhecido por receber parques de diversão itinerantes e circos que, como o próprio nome denunciava, tinham como solo um banhado tomado por barro e lama.
A comunidade, por meio da Sociedade Amigos de Coqueiros (SAC), se mobilizou, conseguiu a cessão do terreno (até então de propriedade da União) e, por meio de doações da população e empresas e ajuda através de descontos nas faturas de energia elétrica, colocou verde no lugar da lama, pavimentou a pista de corridas e caminhadas, ergueu as quadras de esportes, plantou árvores e jardins e, enfim, deu outra vida ao lugar.



Ocorre que, em 2006, o então Secretário do Continente da Prefeitura de Florianópolis, Gean Loureiro, tomou da SAC a administração do Parque, prometendo uma nova forma de gerir o local. Desde então, algumas empresas privadas, como a Unimed e o Espaço Recicle, vêm explorando o terreno por meio de convênios com a Prefeitura, fato que desagradou parte da comunidade. Eis que o espaço público passou a ser fonte de renda para entidades que visam ao lucro. A Associação Pró-Coqueiros (que sucedeu a SAC) realizou diversas denúncias sobre o caso, questionando a cessão do espaço para estas empresas, a poluição visual do local com publicidade e, ainda, a construção de um posto de saúde em cima de parte da área do Parque de Coqueiros.

Estive na audiência pública que discutiu a ocupação de parte do terreno pelo posto de saúde. A Prefeitura foi convidada pela Associação a estar presente, mas não mandou qualquer representante. Da audiência, realizada em 30 de novembro de 2010, há pouco mais de um ano, foi unânime o desejo das lideranças locais e moradores em ter um novo posto de saúde na região, contudo, não naquele local. Motivos para explicar a unanimidade não faltam: a população queria um posto de saúde num ponto mais central, próximo às comunidades empobrecidas, perto daqueles que, de fato, utilizam rotineiramente os atendimentos do serviço público de saúde; pesou negativamente também o fato do posto de saúde estar na beira de uma avenida movimentada, local perigoso para travessia de pedestres, levando em consideração que grande parte daqueles que utilizam os serviços são gestantes, mães com crianças de colo e idosos, que muitas vezes não têm grande agilidade para atravessar avenidas movimentadas; não menos questionado, foi o posto de saúde ter tirado área livre do Parque, espaço que poderia ser ocupado com árvores, jardins e até mesmo mais vagas de estacionamento para aqueles que frequentam o local.
A Associação chegou a indicar para a Prefeitura outros lugares para a construção do posto de saúde, em terrenos livres de propriedade do Município ou do Estado, mas foi ignorada. Em resposta ao temor dos moradores de que acontecessem atropelamentos na região, a Prefeitura simplesmente instalou uma lombada no local – como se, com isso, fossem eliminados todos os riscos de acidentes.

E assim segue a vida no Parque: moradores, representados por sua Associação, questionando e conferindo cada centímetro de mudanças promovidas pela Prefeitura no local. É praticamente unânime o desejo da comunidade de que se mantenha e aumente a área verde, impedindo a construção de novos prédios e diminuindo a área de lazer. Entretanto, o alcaide de Florianópolis parece ignorar a vontade dos moradores e preferir utilizar o local como vitrine para suas obras neste seu último ano enquanto Prefeito. Construir um posto de saúde numa avenida movimentada, onde passam milhares de carros e ônibus por dia, deve lhe render mais popularidade que erguê-lo em uma rua tranquila, pouco movimentada, mas próxima daqueles que mais usam os serviços públicos de saúde.

Nem tudo são flores. Há cimento demais nos planos daqueles que hoje administram o Parque de Coqueiros!


Cédito das fotos: Leonardo Contin da Costa
Leonardo Contin da Costa

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