terça-feira, 15 de novembro de 2011


         Todos os membros da Patota estavam falando abrobrinha demais. Diante disso, decidimos folgar e ocupar professores de jornalismo, publicidade, cinema e até de psicologia para escrever abrobrinhas por nós. Os resultados desse irresponsável planejamento não foi percebido nem mesmo na edição e cabe ao leitor aplaudir, ou parabenizar o que vem por aí. Sim, certamente, a seleção foi criteriosa. Chamem os bombeiros em caso de incêndio, pois existe ainda mais indivíduos envolvidos nessa balbúdia denominada Estopim.
A Patota

Entre posts: amizades e sopapos
Rosane Porto


Há um tempinho tenho percebido o mau humor contaminando as redes sociais, mais especialmente o Facebook. Novidade? Nenhuma mesmo, porque o virtual imita a vida - ou será vidinha? -, aquela atolada na rotina de falsas amizades, engarrafamentos, baixos salários, relações conjugais hipócritas, inveja, grosserias, má educação e insatisfações de toda sorte que transformam a Internet numa catarse generalizada. Pois é! Somos o que somos, apesar de tentarmos não ser.

Agora eu pergunto: o que eu tenho a ver com isso? Embora não credite o menor interesse na vida alheia, é nas redes sociais que colho informações sobre todo o tipo de sandices individuais e coletivas, mas também algumas outras coisas interessantes, que, de um modo ou de outro, acabam se tornando matéria-prima para crônicas que escrevo e ainda não publico. Esta é a primeira, dá licença, ou sigam o texto anterior ou o que venha na sequência, use seu “arbítrio”, “troque de canal”, se assim lhe aprouver.

Dia desses, ao entrar no Facebook, fiquei sabendo da cor da calcinha que determinada criatura havia usado na noite anterior em uma incursão noturna (ou seria excursão?), uma “baladinha básica”, disse ela. Contou-me, pelo chatting, tudo que havia feito e que gostaria de ter feito, mas que o tempo lhe traiu. Sempre achei que relações íntimas rendem um bom caldo, mas desta vez ela me contou obviedades e a cor da calcinha era brega demais para o momento erótico que ela planejara. Enfim, poupo-lhes dos detalhes, assim sabem, “sórdidos”.

Bem feito pra mim, quem mandou add a tal “amiga”? Já está devidamente deletada, aviso aos navegantes, e não pretendo mais add criaturas que usem calcinhas bregas no meu chatting e depois acham que contando compensam o mico. Aliás, num outro dia soube que um “marido” havia dispensado a “esposa” e que os dois tinham trocado “sopapos” on line. Também foi pelo Facebook que tive a recente notícia da morte de um amigo. É lá também que me delicio com boas notícias de nascimentos nas famílias de alguns caros amigos e outras miudezas familiares, que até dão certo prazer.

Mas grosserias individuais não precisavam inundar as redes sociais. Estupidez crônica, crises pessoais, desilusões, coisinhas que todo mundo tem, como ressaca mal curada, são particularidades que jamais deveriam vir a público, quando se tem o mínimo de elegância, porque ninguém tem interesse de lembrar os próprios dramas. Cada um que fique com suas porções miseráveis, porque a vida é assim mesmo, mas ninguém tem nada com isso.

Agrego a tudo isso, além do lero-lero que tem feito o Facebook um arremedo de coluna social, comentários repugnantes disfarçados de sarcasmo. Coisas de maledicentes recalcados que, não mais freqüentando as rodas sociais reais, usam a rede virtual pra vomitar bobagens que jamais teriam coragem de falar de fato. Assim, escrevem posts pra ganhar seus 2 minutos de fama, já que os alegres de plantão os aplaudem com um “curtir”, porque também não têm o que dizer sobre o que teria sido dito etc e tal.

Pobreza! Alguém que lê esse texto pode perguntar: “por que você não cai fora do FB?”. Não caio fora porque aquele espaço também é meu e ainda tenho por lá alguns amigos de verdade, a quem continuo prezando. É lá também onde falo com amigos e familiares distantes, porque o telefone neste país ainda é inacessível para longas conversas. Não caio fora porque assim como escrevo o que quero, todo mundo tem direito de escrever o que quer, ainda que eu ache um lixo. E daí?

E daí que, pra mim, o Facebook acaba sendo um lembrete sobre os vivos que merecem carinho todo especial, já que a vida de muito trabalho me reserva pouco tempo de lazer. Mantenho, assim, uma boa rede de amizades de gerações diferentes, um luxo que não me aparta da Internet, onde perpetuo meu “deserto real”. É a esses que dedico meu tempo de leitura virtual, sem necessariamente dividir meu mau humor, que reservo pra mim e meu chuveiro ou a uma xícara de chá de camomila.

Os “outros” já foram deletados há tempos e não aceito mais adesões. De uma lista imensa que adquiri ao longo de poucos meses, restam os que de fato me interessam e com quem sinto que posso trocar informações úteis. Gosto das sugestões de textos de periódicos que não tive tempo pra ler, das fotos (quando são legendadas), das músicas (de hoje e de ontem), filmes imperdíveis que ainda não tive tempo de ver, além de livros recém-lançados e que valem a pena comprar.

Também gosto das frases de efeito – como aquelas de pára-choque de caminhão ou porta de banheiro de rodoviárias-, porque cheiram a clichê, e de algumas piadas que recortam e colam sem compromisso de fazer rir. Facebook é assim mesmo, tem de tudo um pouco e lê quem quer. O problema é quando mandam recados estúpidos para um ou meia dúzia e os outros que se danem pra entender. Isso nada tem a ver com social, aliás palavra que não produz muito sentido para muitos de nós, sem surpresas.

Mas rede social poderia ser, sobretudo, algo coletivo bacana de compartilhar na web. Os recados individuais bem que poderiam ficar no reservado e nos poupar de certos vexames. Adoro a tecnologia a serviço da inteligência e do prazer. Acho maneiro ter hoje um instrumento que me faz ficar mais perto de quem eu gosto, ainda que seja muito próximo, que more somente a alguns quarteirões de minha casa. Nosso café acaba sendo virtual algumas vezes, mas com o mesmo gosto de quero mais.

Fico feliz por saber que certo amigo viajou e que posta no Facebook suas aventuras por terras onde já andei e por outras que talvez jamais eu tenha condições de visitar. Dou risadas quando alguém posta uma música que eu não ouvia há décadas e de saber que certa festa vai rolar mesmo sem nada a comemorar. Mas fico enjoada com babaquice tosca que nada tem a ver com a vida em coletividade. Nunca achei que coisa mixuruca fosse exemplo pra ninguém e compartilhar entulhos não melhora a vida, nem a sua e nem a minha.

Não venham me dizer que amizade suporta lamúrias. Galhofa! Amigo nenhum empresta ombro todo o tempo pra enxugar lágrimas. Amizade assim vai só até a terceira página. Depois é melhor buscar um analista, porque amigo não é divã e merece respeito! Problema seu não é problema de amigo, cresça e resolva por “su cuenta”. Depois que resolver, convide seu melhor amigo pra celebrar a vitória. Quem gosta de derrota é time que vai e vem da segunda pra terceira divisão.

Alguns podem ser arrogantes e outros idiotas e, assim, caminhamos pelas redes sociais, tal qual a vida como ela é. Mas, cá entre nós, poupem-nos de calcinhas bregas, sopapos on line e lero-lero inútil que já passam na TV e na parede ao lado. Postem mais fotos de batizados e casamentos, deixem a vida invadir a Net com o que há de divertido, andem de gangorra, inventem mais receitas, celebremos a diversão, porque ninguém segura mau humor, nem aqui e nem na China. Tudo isso poderia remeter este texto a um arrazoado teórico baseado em Guy Debord com sua “sociedade do espetáculo”, mas acho que seria um exagero. Prefiro agora, simplesmente, um “curtir”.

Rosane Porto

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