quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Aluno não é matéria-prima

Eu poderia começar com aquela frase clichê “Educação não é mercadoria”, mas penso que a grande maioria deve estar cansando de ouvi-la. Não importando o título da matéria, o assunto é sempre o mesmo, as instituições de ensino aderiram ao capitalismo, e não é hoje.

No Brasil, o processo de desenvolvimento de setores empresariais na educação é antigo, começando no período da ditadura militar. Porém, era tudo maquiado, já que a legislação proibia que as instituições de ensino dessem lucro. Apenas com a Constituição de 1988 é que se possibilitou a existência de instituições de ensino com fins lucrativos.

Sabemos que 70% das vagas oferecidas em universidades brasileiras são de instituições particulares que cobram caro pelas mensalidades e oferecem um ensino fraco e de baixa qualidade. Só para termos uma ideia do tamanho da encrenca, 85% dos cursos superiores no Brasil foram reprovados pelo MEC.

Aluno do curso de medicina veterinária na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Paulo Martins conta:

“Meu curso não oferece as condições mínimas de estrutura, não temos salas de aula o suficiente, não temos laboratórios para as disciplinas cursadas, não temos hospital veterinário, não temos material para pesquisa e extensão”.

O custo da graduação em nosso país consegue ser mais caro em comparação a países como Venezuela, Colômbia e Peru. Na Argentina, o mesmo curso de administração custa 30% menos que no Brasil. Fatores como esses contribuem para que tenhamos apenas 10% da população cursando uma faculdade.

No último ranking divulgado pelo jornal britânico "The Times" nenhuma universidade do país aparecia entre as 100 melhores do mundo. As primeiras instituições brasileiras na lista eram a Universidade de São Paulo (USP), na 175ª posição, e a Universidade Estadual de campinas (Unicamp), na 177ª. Analisando a China, país igualmente emergente e também em processo de expansão no ensino superior, o desempenho é melhor: conseguiu colocar três universidades entre as 100 melhores, sendo uma a de Pequim a 36ª. Ainda estamos engatinhando em termos de qualidade do ensino superior. Falta-nos tradição, já que só muito recentemente - na primeira metade do século passado - criamos nossa primeira universidade.

“Perdi uma chance no governo do estado por falta de formação superior, é mole?”, relata o formando em direito pela Universidade Federal da bahia (UFBA), Antonio Rodrigues.


O setor educacional não deve ser destinado a empreendimentos meramente comerciais desprovidos do propósito de educar com seriedade e qualidade. Aluno não é matéria-prima, muito menos cliente e universidade não é empresa. Visando só ao lucro as instituições do ensino superior brasileiro pecam duas vezes. A primeira no alto custo das mensalidades, elitizando o conhecimento e deixando uma grande parcela da população fora das universidades. E com intuito apenas no lucro, deixam a qualidade do ensino superior falho e insuficiente.
 
Bianca Queda

Um comentário:

Fernando disse...

"Ao final do Governo Lula, o Brasil apresentava índices de repetência superiores a todos os países usados na comparação, 18,5% e também apresentava baixos índices de conclusão da educação básica, apontou o relatório "Monitoramento de Educação para Todos 2010", lançado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). A repetência na educação primária no Brasil é ainda três vezes maior que a taxa apresentada pela América Latina (5,6%)." Um povo sem educação básica é um povo sem condições de reclamar por cidadania e votar com consiência em políticos com um mínimo de comprometimento social e democrático.