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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Sob as ruínas do jornalismo

Raquel Wandelli

Foto: Cristina Souza

Deambular, navegar, andar ao acaso, avançar para novos territórios, fugir para a rua são movimentos atávicos de migração de povos que inspiraram a escrita-viagem. A sanha de caminhar pelo planeta, que faz bichos e homens varrerem mundos, não é mais o que move a narrativa jornalística.

Nos tempos de hoje, o jornalista não pode mais andar ao acaso nem sujar os sapatos. Repórteres saem às ruas com pauta, fontes e imagens programadas. Saem para chegar a um fim predefinido, da mesma forma que os habitantes percorrem avenidas como não-lugares apenas para chegar a um destino, não para aproveitar a viagem.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O combatente da pressa

Raquel Wandelli

Entregar o controle do tempo à máquina capitalista representa a morte da flânerie. Por isso o andarilho voyeur se procria na autogestão do tempo. A instauração do tempo industrial pelo taylorismo foi, como anunciou Benjamin, uma das causas dessa morte. Se o flâneur é um homem ocioso, livre para debruçar seu olhar pela cidade e até vadiar, é também “um boêmio em constante estado de revolta contra a sociedade burguesa” (BENJAMIN, 1994b, p. 34). Flanar é ver e dar a ver as contradições dessa sociedade. Nos fins do século XIX, nos diz Benjamin, já desaparecia essa figura histórica observadora da modernidade que nasceu condenada pelo tempo da máquina capitalista que ela busca transgredir.

Ensina a filosofia da linguagem que certas operações discursivas conferem o efeito de verdade à narrativa jornalística, onde cada detalhe, cada pormenor é bem mensurado, classificado e situado no tempo e no espaço. Advérbios dêiticos e estruturas verbais mais acabadas, como o presente ou o passado perfeito, que situam os fatos em um período datado, caracterizam o modo do tempo no jornalismo. Em seu devir ficção, todavia, a escrita flâneur desestabiliza o efeito de clareza, precisão e definitude que ela própria incorpora em seu porvir jornalismo. E o faz abusando paradoxalmente de pronomes e artigos indefinidos e modos de tempo dúbios e inacabados, como protocolos próprios do tempo da ficção: “certa vez”, “uma vez”, “era uma vez...”, “um porteiro da Park Avenue com três fragmentos de bala na cabeça – que estão lá desde a primeira Guerra Mundial” (TALESE, 2004, p. 20).