quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Só mais uma noite de Maracanã

Tiago Menezes

 



Um organismo vivo e sobrenatural invadiu o Maracanã na noite da última quarta-feira. Um ser composto por quase 70 mil células vermelhas e pretas unidas por um mesmo objetivo, dentro de uma panela pulsante e lindamente barulhenta. O maior Templo do mundo foi palco de mais um título do Flamengo para a história, empurrado por um país inteiro representado pelas 68.857 pessoas presentes nas arquibancadas do Maraca.

Agora pulemos a parte da puxação de saco do Flamengo. Vamos ao jogo.


A partida em si não teve nada demais, teve um time que atacava e outro que se defendia. O rubro-negro carioca foi para cima, não tendo sofrido muito com a atuação quase que covarde do Atlético Paranaense. O Atlético, aliás, que tinha tudo para ser o time da temporada no futebol nacional. Esnobou o estadual colocando a gurizada para jogar, vinha fazendo uma campanha linda no Brasileirão e na Copa do Brasil, mas acabou sentindo o peso da final e da lógica. Em tese, seria um confronto parelho. Porém, a questão espiritual pesou novamente para o lado flamenguista.

Um camisa 9 da galera, com apelido carismático e metendo gol de tudo que é jeito, treinado por um técnico interino e ex-jogador do clube, contando com jogadores renegados pelo Brasil e revelações da base. Não, eu não estou falando de 2009, muito menos de outros casos absurdamente semelhantes, mas que não me atrevo a comentar, pois não tive a chance de acompanhar de perto. Essas semelhanças só reforçam minha teoria de que a camisa do Flamengo manipula quem a veste dentro de campo, incorporando o espírito de todos os jogadores que a vestiram no passado.

Não comparo o Imperador ao Brocador, nem Jayme de Almeida a Andrade ou Carlinhos (ambos campeões interinos e ex-jogadores do Flamengo), muito menos a qualidade do futebol já apresentado num passado não tão distante (até porque o futebol de ontem foi bem “nhé”), mas sim os feitos da equipe. O rubro-negro carioca incorporou os times de 1992 e 2009 após a fusão de vários fatores batidos, resultando em uma aura já clichê dentro do Maracanã. Foi uma vitória totalmente esperada, com fatores totalmente esperados. Gols de praxe, de Paulinho, a revelação, e de Hernane, o matador.

Outro fator importante foi o palco deste espetáculo. Apesar das cadeiras opressoras, que tentam transformar o futebol em teatro, dos preços abusivos, que teoricamente correriam o povo para longe, o Maracanã foi o de sempre. A torcida apoiou de pé, cantando, sem camisa e falando palavrão. Como nos velhos tempos e totalmente diferente do que a lógica da “europatização” do futebol do Brasil impõe. O Maracanã se tornou um palco atemporal, uma realidade alternativa onde todas as épocas se uniram, causando um resultado já cravado no destino imposto muito antes dos jogadores presentes terem nascido.

A casa do Flamengo (sim, do Flamengo, pois nenhuma outra torcida carioca faz uma festa tão digna da grandeza do estádio quanto a rubro-negra) não é só mais um fator que contribuiu para a vitória, ela é o ponto central disso tudo. A personagem principal.


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