Em busca de reconhecimento por conta própria

Tiago Menezes

Foto: Jô Pilger

As dificuldades já começaram na viagem. De Florianópolis a Joinville, para pegar um avião até São Paulo e de lá rumar para Cuiabá, uma parte do elenco de atletas do São José Istepôs Futebol Americano teve que esperar 12 horas no aeroporto em terras paulistas. Diante de aproximadamente 4 mil pessoas no estádio em Mato Grosso, sem conseguir se comunicar em campo de tanto barulho que a torcida fazia, o time catarinense ainda assim bateu o Cuiabá Arsenal por 16 a 13 e garantiu uma das vagas na semifinal do Campeonato Brasileiro de 2013.

Na próxima fase, o adversário será o rival Coritiba Crocodiles, do Paraná. O histórico de confrontos entre as duas equipes, neste ano, é favorável aos parana passeava sobre os adversários no campeonato. Eles venceram na fase de grupos, mas no jogo ficou evidente que o Istepôs têm time para competir e buscar uma vitória fora de casa.

Aliás, a participação em campeonatos nacionais mostrou que o time de São José tem grandes jogadores e histórias, além de muito potencial. A equipe catarinense joga no mesmo nível de outros grandes do país e provou isso ao eliminar o atual campeão brasileiro. Entre os atletas, o americano Tyler Evans já atuou pelo time da Mississippi State University, um dos melhores rankiados da região.

Sua última partida pelo time foi diante de um estádio lotado, com mais de 50 mil pessoas. Chegou ao Istepôs por acaso, assim como muitos outros do elenco, como é o caso de Daniel e Felipe de Andrade - ambos lesionados - e Paulo Torquato. Eles conheceram o time por pura sorte, esbarrando na rua em jogadores ou por indicação de amigos. Daniel conheceu o futebol americano quando foi aos Estados Unidos por causa de um intercâmbio, assim como Felipe, que morou por um tempo no país onde o esporte é um vício. Paulo gosta do esporte desde pequeno, por acompanhar a liga americana pela tevê.

Na maioria dos casos a influência vem de fora, pois o esporte é praticamente ignorado no Brasil. Apesar das viagens, dos campeonatos e das torcidas, o futebol americano é totalmente amador. Grande parte dos jogares são universitários e têm profissão fora do esporte. Na verdade, são os próprios jogadores e envolvidos com o time que ajudam a mantê-lo.

João Crema é atleta e vice-presidente do Istepôs. Além de jogar e ter sua vida profissional fora dos campos, também cuida da parte administrativa do clube. Ele e os outros atletas são associados ao time, eles pagam uma mensalidade para poder manter a equipe e comprar os uniformes e equipamentos. Existe também um apoio da prefeitura de São José, que além de ceder o campo do colégio Forquilhão, a nova casa, ajuda financeiramente, o que permite a participação em torneios maiores.

Outra figura importante, Ernâni Costa Valério, treinador do Istepôs, é também um associado que paga mensalidade. Dada a boa participação do time no Campeonato Brasileiro deste ano, ele tem a chance de encerrar a carreira com uma temporada perfeita em 2013. Depois de sete anos treinando a equipe, ele pretende se voltar a projetos pessoais e se dedicar a vida profissional fora dos gramados. Já experiente, Ernâni já havia treinado e jogado em outros quatro times em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.

Temos atletas de talento, equipes e até torcida. A pouca divulgação faz com que o esporte não se espalhe, por isso, não parece uma boa opção para alguma empresa patrocinar. Muitas pessoas, até do próprio município de São José, nem sabem da existência de um time com história tão interessante quanto a do Istepôs, que mesmo com poucos recursos, continua brigando para ser um dos melhores do país. A vontade de vencer supera a falta de recursos? Por enquanto vem dando resultado. Mas e com um apoio maior? E com arquibancadas lotadas?

O São José Istepôs vai a Curitiba no dia 23 de novembro, onde encara o Coritiba Crocodiles, para definir quem vai a final. Patrocinados ou não, o time já está focado no objetivo e tem condições de arrancar uma vitória em território inimigo.