terça-feira, 19 de novembro de 2013

Cronista não nasceu pra rimar

Camila Albuquerque


É só quando conseguimos nos desprender de hábitos ruins que voltamos ao ponto de partida da nossa vida. Uma amiga minha sempre insistiu nos consolos das frases prontas e - se por falta de criatividade ou não, ainda os repetia, voilà: "Um hábito não é uma necessidade". Sempre certeira nos conselhos.

Sou daquele tipo de pessoa que gosta de reparar nos outros ao redor, se forem desconhecidos melhor ainda. Gosto de fazer uma lógica comum em que observo todos cometerem os mesmos erros e ainda assim não são tão errados quanto os meus. Tem gente que nasceu virada, por certo que fui eu. A questão é que no meio da multidão sempre vejo um que me escapa pelo canto do olho e toma um caminho diferente. Torno disso então uma obsessão.


Sou obcecada por escolhas esquisitas. Tudo que foge do padrão e me surpreende mesmo sem saber me fascina. Pois bem, fazer crônica é fugir do contexto.

Esse negócio de hábito ou vício, como quiser chamar, funciona mesmo como uma ferida que não cicatriza e sempre que a gente resolve levantar a blusa pra ver como tá o sangue escorre um pouco mais. É uma mania tão antiga que temos de insistir em coisas ruins que talvez por ser antiga e corriqueira seja tão difícil de nos livrarmos, assim como a religião.

Minhas três amigas psicólogas que me desculpem falar aqui sem atestado de certeza, mas deve ser algo psicológico que mexe com o nosso lado de querer controlar as coisas ao redor. É como se o cérebro, por vezes até o coração, não aceitasse que aquilo é errado e não vem com poréns, simplesmente é.

"Um hábito não é uma necessidade". Soa infantil, meio "nasci em 1994, o Justin Bieber tá aí pra confirmar", mas comecei esse texto mesmo com a intenção de ironizar. Escrevi qualquer coisa com coisa nenhuma e essa é a graça de ter vivido tanto a ponto de não mais me importar. O sabor do texto só é possível extrair lá no início, quando eu disse que cuspi pra fora todo o meu vício.

Mas meu ponto de partida já vai largar e vou terminar o texto porque cronista não nasceu pra rimar.


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