terça-feira, 29 de outubro de 2013

Um escritor no Divã

Camila Albuquerque

Acredito não existir nada pior para um escritor do que ficar inerte diante dos acontecimentos que se passam

- Pobre escárnio da sociedade àquele que lê e nada o consola.

- Ora você sabe o que são fases, acontece com todos, é perfeitamente natural!

- Não ouse me nivelar a todos esses outros seres e suas fases, eu não tenho fases! Estamos falando de frustrações aqui, não me provoques a ponto de lhe considerar também como uma.

- Você de nada precisa se irritar meu caro, sento nessa poltrona com a intenção de te ajudar e nada mais além disso.

- Então me ajude a entender o que passa pela cabeça de um ser tão pensante como eu que por tamanho pesar e pensar nada mais consegue protestar!

- Estais a fazer rimas com seus próprios lamentos, pensa você não ser um homem de um dom notável e admirável?

- Dom? Ora, não me fale asneiras! Que dom teria um homem que vem a precisar de outro para desabafar? De notável só essa vergonha que fuzila o meu peito por aqui me deitar.

- Se zombas do meu trabalho não vejo por que continuar.

- Me perdoe doutor, estou apenas a exagerar.. Mas veja, Bukowski, o gênio Bukowski disse uma vez que aquele que precisa de inspirações e tempo para escrever não deveria fazê-lo, tendo-se por vez que não nasceu para isso.

- Não generalize de antemão, gênios não nascem sempre por si só.

- Eu acho que nascem sempre, sim.

- Queres que eu lhe diga para nascer de novo?

- Talvez isso seja uma boa ideia...

- Continues assim que eu lhe enquadro na ficha de suicidas e te encaminho para um psiquiatra!

- Ora, pensei que o senhor fosse um.

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