quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O pulso das ruas

Thaís Teixeira



A rua é um organismo vivo que sente, ouve, enxerga. Não é exagero pensar assim. 
Ela tem um coração que pulsa e veias que alimentam seu corpo
A rua vê tudo aquilo que nós, seres humanos, ignoramos.
Ela ouve os murmúrios e suspiros, calada e paciente.
Ela é o abrigo, a casa, a mãe daqueles que, para nós, seres socialmente aceitos, não servem.
A rua é o lugar dos encontros e desencontros.
É nela que abraçamos, sorrimos, beijamos, choramos.
É nela, na sua imensidão, e na sua solidão, que nos reconfortamos na volta solitária para casa.
A rua respira o mesmo ar que nós, sente a mesma dor e a mesma alegria.
A rua compartilha conosco o que não mostramos pra ninguém
porque a rua, no seu silêncio, nos enxerga.
Mas nós a ignoramos.
Aos poucos, a matamos
Lentamente trocamos o seu reconforto pelos quartos escuros dentro de algum bloco de concreto
Deixamos de encontrar, desencontrar, sorrir, abraçar, chorar, conversar
para simplesmente nos isolar num mundo de constante medo
Aí os espaços da rua se esvaziam de pessoas
E pra ela sobra as sombras das almas, a escuridão solitária da noite
Compartilhando seu pulso com os únicos que nunca a abandonaram
Aqueles que nós, também, há muito tempo já não ligamos mais.

Nenhum comentário: