quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Eu gosto é de catimba!

Tiago Menezes

Cansei de ouvir que o futuro está na modernização dos estádios e clubes. Quer futebol padrão europeu? Vá para a Europa, então! Aqui é diferente. Aqui é raça, correria, empurrão e cuspida na cara. Era para ser ao menos. Aquela reclamação, já clássica, de que os times dos outros países da América do Sul abusam da catimba, como forma de intimidar os clubes brasileiros, tem que acabar. Somos Sul-Americanos também! Nossas torcidas podem pressionar tanto quanto qualquer outra. Nossos jogadores podem correr mais também, nossos narradores podem gritar mais! Claro que não falo de violência, nem de antijogo, mas podemos ser menos frescos de vez em quando. Às vezes parece até que o jogador brasileiro é inocente (rá!), mas isso tudo me parece mais uma desculpa para uma possível derrota em outro país.

Sou delirantemente apaixonante
Ao acompanhar a Ponte Preta na última rodada da copa Sul-Americana, jogando contra o desconhecido (para nós) Deportivo Pasto, pensei no quanto é fácil uma partida de qualquer outra competição parecer mais interessante do que um jogo do Brasileirão. Grandes jogadores, grandes estádios, grandes camisas, mas nada de emoção. Já está tudo definido. Muito antes de acabar, já temos um campeão, alguns já rebaixados e trocentos times de tradição não fazendo absolutamente nada. Flamengo, Internacional, Fluminense, Corinthians, Atlético Mineiro, Santos... nenhum brigando por nada. Broxante. Enquanto isso, a "pequena" Ponte Preta, vem fazendo história e vai para as quartas de final de uma competição internacional. Vibrei como a tempos não fazia. Aliás, o último jogo que vibrei de verdade foi em uma partida válida pela libertadores, há alguns anos, no qual perdemos até. Muitos copos foram quebrados naquele dia. Saudades.

Talvez seja o sistema de eliminação, o saudoso mata-mata, que deixe tudo mais emocionante. Mas o ponto não é esse, o que me incomoda é o fato de todos considerarem os times brasileiros entidades superiores aos outros clubes da América. Não falo em futebol, em dinheiro ou estrutura, falo em soberba mesmo. Jornalistas botam a culpa nos juízes, dizem que os brasileiros não estão acostumados com a forma de apitar ou que eles não dão as faltas que são dadas no Brasil. Todo ano esse papinho. Os jogadores parecem vítimas, reprimidas pelos vilões argentinos e uruguaios. Que se acostume a jogar então, ou melhor, que não tente fazer um jogo diferente de todos os nossos vizinhos que têm tanta ou mais tradição quanto nossos clubes. Mas principalmente, não se esqueça: Somos sul-americanos também.

O que nos resta são esses clubes de menor expressão que, teoricamente, não têm força para ganhar e jogam com raça e com vontade, sem firula. Tá certo que o adversário era tão inexpressivo quanto o clube brasileiro, mas.. deixa quieto. Talvez um time menor não seja tão mimado a ponto de se dar o luxo de botar a culpa da derrota na catimba, podendo até, catimbar de volta.

Enfim, rezo por uma terra onde as torcidas não sirvam só para vaiar ou tocar rojões nos outros e bater em PMs. Sonho com times guerreiros, que vibram e correm como loucos. O Brasileirão já abandonei, só torço quando tem zebra. Mas, por favor, não me tirem as competições internacionais. Não me façam ter que torcer para algum time argentino ou uruguaio (já faço isso, na verdade), não aguento mais estádios vazios. Quero provocação, quero raça e flauta de jogador. Que falta faz um Romário marrento ou um Paulo Nunes falando besteira...  Nossos estádios já estão minados de cadeiras, dignos de serem chamados de teatros, por isso não podemos nem mais pular. Não podemos fazer nada. Por isso apoio a Ponte Preta, retrancada, quase rebaixada e tudo mais. Na próxima rodada vai pegar um gigante argentino e provavelmente vai morrer, mas ainda assim já vale acompanhar, diria até torcer. Caso ela ganhe, o sonho segue vivo.

Nenhum comentário: