terça-feira, 15 de outubro de 2013

Busca-se Sexólogo Mental

          
Ana Maria Ghizzo                       Tiago Menezes  
                                          Camila Albuquerque                                  
Rafaela Bernardino
                 Cristina Souza              
André Palma Ribeiro 
                      Fernando Schweitzer
    Nícolas David                            Juan F. Garces                Flavio Toassi
                         Thaís Teixeira                     Rafael Medici

A obra que se segue foi escrita em parceria pelas mãos estopinianas. Era o mais valioso e precioso presente de aniversário de dois anos do periódico, comemorados no dia 3 de outubro. A organização da equipe, entretanto, prevaleceu e os patotenses tiveram muitos dias para pensar a maneira como colaborariam com a produção. Se alguém ainda acha que algumas publicações estopinianas não têm pé nem cabeça, essa é uma oportunidade para se chegar a uma certeza.

BUSCA-SE SEXÓLOGO MENTAL

Será que existe jovem interessado em pensar? Muitas pessoas, até as que não conscientes disso, necessitam. Você que está preocupado em mudar o mundo, ao menos o seu, e ficar mais rico... Por que não admite que a verdadeira alegria da vida é viver em paz num mundo capitalista?

Por que você não para de xingar as falhas da democracia e do capitalismo e não vai pra balada? Ou simplesmente entra num bar e conversa com os seus amiguinhos sobre BBB, A Fazenda, ou talvez, sobre o drama dos fumantes que não podem respirar sua fumacinha em espaços públicos?

Que tal, jovem pseudo-crítico, você parar de encher o saco do empenho do governo em fingir melhorar o país? Mesmo porque o problema é institucional e tem várias décadas de um continuismo burocratizado, e não a apenas 10 ou 20 anos.

Ou talvez os colunistas do estopim parem de pegar no pé dos tão certos jovens que entram num bar pra discutir a fazenda e BBB já que, a meu ver, bundas e barracos-totalmente-espontâneos são um petisco perfeito pra engolir com cevada.

Por que não se aquetar e fingir que não está vendo nada? Que mal tem isso? Vale lembrar que talvez ninguém que você conheça tentou mudar alguma coisa, nem por isso você deixa de curtir um domingo no shopping com a galera. Pra que se estressar com o resto do país?

Ao invés de procurar problema, comece você a procurar a solução. Toda essa bagunça pode não estar lá no Congresso, pode estar na sua casa, no seu quarto, dormindo na mesma cama que você. Sim, o problema pode estar contigo mesmo, que reclama de tudo e de todos, mas na primeira oportunidade de tirar uma vantagem admite: "todo mundo faz isso".

É certo, caro leitor, que esses devaneios estão te deixando um pouco confuso, para não dizer maluco. Mas a verdade é que esse meu exercício de ora subir, ora descer do muro, nada mais é que uma tentativa desesperada de chamar a tua nobre atenção! O que pretendo com isso é que exerças teu direito de pensar, se é que ainda o sabes fazer. Quero ser para ti o estopim dos teus mais inflamados pensamentos. Quero te devolver a liberdade! Fora dos padrões em que te escondes, quero chegar a ti, e escutar o que realmente pensas, ouvir aquilo que teu coração pulsa.

Mas aí você pensa: o que é liberdade? Ser livre não é poder falar das bundas do BBB em paz? Ser livre não é aclamar por um espaço digno para soltar as fumacinhas do Gudang que você compra com o dinheiro dos seus pais? Ser livre não é poder ficar acomodado na cadeira reclamando de tudo enquanto a vida passa? Então eu te respondo, meu caro leitor: ser livre é ser. Se você quer ser apenas a pessoa que fala sobre BBB com a bunda na balada enquanto petisca gudang – sei lá qual a ordem dessa bagunça – seja.

Não seja o que os outros mandam. Ser livre não é ler Bukowski e fumar cachimbo porque você quer que a sociedade te veja como uma pessoa pseudo-cult. Isso é estar tão preso quanto a pessoa que vai na academia para malhar a bunda e ganhar likes no Facebook. Seja livre a sua maneira, mas não se acomode com as coisas que te incomodam.

Também não se esqueça, leitor, que liberdade precisa ser conquistada. É seu dever na sociedade garanti-la a todo custo, pois antes de você, dessa sua geração que senta na mesa do bar para falar sobre A Fazenda, BBB ou seja lá o quê, outros a conquistaram para você. E sim, ela pode escapar pelos seus dedos sem que percebas. Basta que pra isso você continue ignorando e matando a história.

Não perca sua liberdade, pois grande parte dessa história que foi responsável por trazê-la, também tirou-a de todos nós. Por isso devemos dia-a-dia: manter a liberdade ao nosso lado e lutar por ela; viver; ser; subir, descer e ficar em cima do muro; procurar a solução; e não deixar que toda essa máscara social te confunda. Pois quanto mais confusão, informação e conversas (às vezes, acompanhada de um suco de cevada) maior o estopim de ideias, razões e ideologias dentro de cada coco estopiniano!

Esses devaneios estão te deixando um pouco confuso. Tenho ciência disso. No entanto, por que não confundir um pouco mais? Você acha que a solução é simplesmente esquecer todos os problemas do congresso, cagar e andar para a política do país e ainda julgar o que fazem? Por favor, faça um favor para o mundo. Comente sobre as falhas da democracia e do capitalismo, faça as críticas necessárias e, se precisar, saia nas ruas e brande pelo direito do povo. “Mas você não defendeu o oposto no parágrafo anterior”? Pois é, amigo. O ser humano é uma grande contradição ambulante, e esse texto não poderia ser diferente.


E é por isso, caríssimo, que te incito a não te acomodar, a negar tua subserviência doentia aos estereótipos e, sobretudo, a deflagrar o estopim da mudança em ti, ou para ti - uma questão de perspectiva. Deita-te na areia da praia sem medo de sujar-te e depois beija-te na boca; fica nu em frente ao espelho e não te julgues; ama e deixa-te ser amado; viva tudo o que quiseres viver. Concedo-te, contudo, meu caro, o poder da palavra. Use-a sabiamente; invoque-a sempre que puder; e profane-a com o cuidado e o zelo que tens pelo que mais dás valor - é coisa cara, valiosa! Use-a não só para expressar sua indignação, mas também para agir, mudar, criar. Palavras só permanecem no mundo dos signos quando ainda não receberam sua vocação referencial e reacionária, e quem deve conceder-lha és tu!

Então digo-lhe: tire este sorrisinho morno da cara e abra os olhos! Inspire-se, busque-se, escrafunche até achar o seu próprio jeito. Ora, é o seu dever, tenha dó! É preciso que a mente esteja em um constante momento sabático, de autoconhecimento, de introspecção. Não, não pense que estou te limitando, muito pelo contrário, este é o caminho da emancipação, meu caro. Não seja mais um lastimável ignorante. Não pelejes este caminho tão árido, tão estéril. Neste lado não há nada a se aprender, por que diabos pensas em ficar aí? Meu caro, meu caro, o que posso eu fazer contigo? Olhe-se no espelho: o que é que você está fazendo aqui? Leitor, se permaneces nestas linhas depois de tão insípidos devaneios: honre esta sua calça e faça o que tenha de fazer. Seja.


Atualizado em 15 de outubro, às 15:03

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