quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Boca de Siri: O Teatro político está em moda!

Fernando Schweitzer




O Grupo Teatral Boca de Siri em comemoração aos seus 18 anos de existência apresentou-se com A farsa do Panelada, nesta terça 22 de novembro, no IFSC. O grupo que nasceu dentro do Campus Florianópolis do IFSC começou com os alunos e depois foi agregando pessoas da comunidade externa, contando sempre com a coordenação da educadora em artes Tânia Meyer.

Nestes anos de existência, ademais de um trabalho diversificado em temáticas a agrupação também criou espaços de diálogo com a comunidade, a formação de público, bem como a interação com outros movimentos artísticos independentes da região. Tendo até mesmo organizado esse ano a 12ª edição do festival de teatro Didascálico. Sempre aberta para companhias e grupos de vários estilos e linguagens.


Ainda pela comemoração de seu décimo oitavo aniversário, A Farsa do Panelada, estará com uma nova apresentação no dia 25 de outubro, às 20 horas, no Teatro da Ubro, na Centro da Capital. Teatro este que tem abrigado as companhias teatrais mais marginalizadas da cidade e que quase nunca são contempladas com datas nos elefantes brancos sob administração da FFC (Fundação Catarinense de Cultura) como: TAC, CIC e Pedro Ivo.

A obra do cearense José Mapurunga, foi interpretada por alunos da instituição. A história de que no Pedaço (um lugar situado entre o Céu e o Inferno), Panelada, um mau-caráter vendedor de panelas, atormenta a vida de Dona Marica por conta da dívida de uma panela de pressão. Porém, tudo muda quando Santa Edwiges, a protetora dos endividados, e seu fiel conselheiro, Anjo Gabriel, decidem interceder junto a mulher.

O espetáculo trouxe uma mistura de linguagens atorais. Com um estilo muito peculiar o ator paraense Ramon Lima Lopes, como o Panelada, imprimiu um ritmo de teatro de rua ao espetáculo. Mesclado a um texto muito atual e politizado as atuações muito prolixas caíram no gosto do público já nos primeiros instantes, mostrando que mesmo a mudança de última hora do local de apresentação não fora barreira para o desarrojo da obra cênica.

Acompanhada de amigos Beatriz Brasil, aluna do IF-SC disparou: "não pensei que fosse tão legal a peça, mas achei muito interessante a forma como eles construíram as personagens, por isso estou aqui de novo".

Tania Meyer, diretora do Boca de Siri, ressaltou a importância e as dificuldades de se fazer arte na América Latina. "Muitas pessoas consideram que a arte como se fosse um hobby ou uma brincadeira, alguma coisa meramente lúdica, que não teria uma importância vital que ela têm" e salienta "que este é nosso papel, produzir essa oportunidade, no nosso papel de educador mostrar isso ao nosso público".

Com uma trama não habitual e politizada, completamente fora de clichês do aborrecido e por muitas vezes entediante teatro local, carregada por atuações precisas e boa direção a montagem merece ampliar público e olhares. Talvez trazer um texto de uma região do país, aonde existe, por exemplo a literatura de cordel, e por conseguinte, uma tradição cultural mais crítica e sem tantas papas na língua, possa reavivar o teatro no estado.

Como comparação, se é que comparações podem ser feitas assim de forma rápida, um estilo suassanesco emerge neste enredo. Algo muito parecido com a construção textual e dramatúrgica de O Santo e a Porca (1957, Ariano Suassuna) se dá em A farsa do Panelada. Elementos como a inocência misturada a viveza do sertanejo, do homem popular, que o teatro sulista renega, tendo assim uma falta de identificação popular no resultado histórico.

A farsa do Panelada
Data: Sexta, 25/10, às 20h.
Local: Teatro da UBRO.
(Escadaria da Rua Pedro Soares - nº 15, centro, Florianópolis)

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