quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Desinteressantes ou desinteressadas?

Cristina Souza

Um amigo meu postou esse dias que “pessoas interessantes são raridades hoje em dia”. Eu, que nunca consigo ficar quieta, respondi que, na verdade, pessoas interessantes têm aos montes, mas que o número de pessoas desinteressadas é muito maior. E  não é verdade? Pense: com quantas pessoas você cruza diariamente? Algumas centenas, talvez. Com quantas troca poucas palavras? Algumas dezenas. Para quantas dessas realmente desprende alguma atenção especial? Poucas, muito poucas. Dessas poucas, uma ou outra realmente nos toca de alguma forma. Às vezes trocamos carinhos, beijos, amassos com uma (ou algumas, se você for pegador da balada) delas. Mas e depois?

Acontece que as coisas todas hoje em dia acontecem de forma muito efêmera. Em uma única noite muitas vezes as pessoas se conhecem, se beijam, vão para cama e fim. Aí começa novamente um outro ciclo. Mais papos, beijos, cama e assim vai. Veja bem: não estou dizendo que isso é errado. Muito pelo contrário, sou a favor de que ninguém tem que  reprimir suas vontades. Eu faço tudo que tenho vontade. O que acontece, é que as pessoas estão desinteressadas no depois. Ninguém quer conhecer ninguém, é tudo muito superficial.


Por conta disso, algumas pessoas  resolvem dificultar as coisas, se reprimir, achando que assim irão se tornar mais interessantes. A menina resolve não ir pra cama com o cara, mesmo cheia de vontade, porque acha que assim vai fazer com que ele a ache mais interessante, e que queria conhecê-la mais além. 

O menino achou uma garota interessante, então resolve esnobar, se fazer de difícil, achando que assim ela vai desprender atenção especial a ele. Mas não é assim que funciona. Esse joguinho só vai fazer com que as coisas fiquem mais instigantes – porque o ser humano tem realmente uma certa tendência a querer conquistar as coisas mais difíceis – mas não vai fazer com que você torne-se mais interessante. Depois de vencida essa barreira, se a pessoa estiver desinteressada, o ciclo será o mesmo. 

Entendam: não importa quantos Bukowski você leia, quantos Cazuza você ouça ou quantos trabalhos filantrópicos você realize, se a pessoa não estiver afim de conhecer tudo isso, você será só mais uma patricinha maquiada ou um playboy com blusa da Thommy, mesmo que você saiba que é muito mais interessante do que essa casca toda. O que acontece é que as pessoas estão meio perdidas: reclamam o tempo todo que todo mundo é vazio e superficial, mas não se importam em ultrapassar essas cascas, em saber a história da pessoa, a personalidade, nem nada.

Ser interessante, aliás, é algo muito pessoal. Não existe um parâmetro: tenho certeza que o que chama a atenção para mim é irrelevante para você, e vice-versa. Eu me acho interessante. Você deve ser também, com certeza. Mas quantas pessoas sabem disso? E, quantas se importam em saber? Poucas. Muito, muito poucas. Então, se você se acha muito interessante, bonito, independente, inteligente e etc e não entende porque está sozinho, não se lastime|: a culpa não é sua, é dos outros. Da falta de interesse alheia – que não recai só sobre você, mas que é generalizada.

E se você é tipo aquele meu amigo lá do início do texto, que reclama porque não acha uma pessoa interessante no mundo, faça uma reflexão: o problema não está nas pessoas. O problema está só em você mesmo, que não quer se  esforçar para captar as “interessâncias” que estão por todo o lado.

Nenhum comentário: