Thaís Teixeira
- E aí Papa, dá pra salvar o País?
- Olha minha filha... Reza... Reza |
"E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo
sumiu e a noite esfriou".
Ou melhor, e agora, Chico? E agora que você foi recebido com
todas as honras e pompas, digno de um rei, enquanto, não muito longe de onde
você estava, a mesma polícia que te protege e que teve carta branca para manter
a “paz” durante sua estada por aqui, continua usando da força e arbitrariedade
para reprimir manifestações dos jovens que você quer conquistar?
E agora que você trouxe sua graça e poder santificado para o
Brasil, vizinho do seu país de origem, o que será feito por nós? Queria eu, por
uma fração de segundos, achar que pelo menos um terço da riqueza do Vaticano
fosse para salvar as milhares e milhares de famílias que vivem, morrem e
apodrecem nas favelas daqui. Porque, Papa, as nossas várzeas não têm mais
flores, têm favelas; nossos bosques não têm mais vida, têm protestos e nossa
vida não têm mais amores, tem indignação e revolta.
Queria eu que aquelas milhares de pessoas eufóricas,
emocionadas, esperançosas lembrassem por um minuto que há um mês esse mesmo
país, que hoje festeja a visita do Papa, gritava nas ruas contra a opressão
maquiada de um Estado que rouba e mata de ignorância, desgosto, fome, tiro.
Sabe, a coisa por aqui ta preta como dizia o outro Chico, o nosso Chico.
Não dá para entender como é possível ignorar que precisamos
passar por mudanças estruturais urgentes na política, na polícia, na educação,
na saúde... Não tem como fechar os olhos, de novo, para tudo o que acontece. O
pior pecado que se pode cometer é esquecer, nem que seja por dois dias e meio,
que estamos sim, vivendo uma crise.
Foto: Jorge Saenz/Associated Press
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