Repórter Ping-Pong
Muitos foram os coros das
manifestações em
Florianópolis. Uns gritavam pela não violência, outros,
execravam os participantes partidários. Educação, saúde, fim da corrupção. E no volumoso ritmo das pautas, outra cantiga chamou atenção. Era o uníssono entoado
quando os manifestantes se aproximavam dos policiais militares: você aí
fardado, também é explorado!
Na expressão, os PMs pareciam
constrangidos. Como se tivessem essa consciência. Policial Militar desde 2006,
Eliseu dos Santos David concedeu entrevista ao Repórter Ping Pong não para
mostrar a opinião da instituição, para isso, há assessores e coronéis
preparados. Ele traz a voz de um trabalhador, de um cidadão empenhado em uma
profissão de risco à serviço dos catarinenses.
Entre as principais revelações,
está a de que sua maior vontade era a de que seus colegas seguissem os
protestos junto dos manifestantes. Mas, logo lamenta a inviabilidade desse
acontecimento, porque estão ali para trabalhar. E traz uma novidade: em 27 de
junho, os PMs reivindicarão a sua pauta.
Repórter Ping-Pong: Desde quando
você é Policial Militar?
Eliseu dos Santos David: Ingressei
na PMSC em 16 de janeiro de 2006. Após ser aprovado num concurso público com
quatro etapas e dezenove mil inscritos em todo o estado.
Ping: Por que ingressou nessa
carreira?
Eliseu : A princípio entrei pra
polícia em busca de um emprego estável, mas logo no início do curso de
formação, que durou nove meses, percebi que havia feito uma escolha para a vida
inteira. Identifiquei-me com o trabalho policial militar e hoje não troco esse
trabalho por nenhum outro.
Ping: Como cidadão brasileiro, de que
forma você enxerga às manifestações que ocorrem nesse momento no Brasil? Faça
um panorama geral?
Eliseu : Vejo essas manifestações
de forma positiva, numa opinião genérica. Claro que como todas as coisas elas
tem mais de um lado a ser olhado. Concordo inteiramente com o protesto
pacífico. O que não aceito é que oportunistas aproveitem essas ocasiões para
fazerem seus palanques políticos e hastearem bandeiras vermelhas com a foice e
o martelo. São tão perigosos quanto os que estão no poder quando tem em suas
mãos uma massa cega.
Acho que essa geração está ainda
engatinhando no que diz respeito a se manifestar, mas ao menos começou. Falta
foco. Precisam eleger uma prioridade e focar nela. Uma coisa de cada vez. Se
ficar como está, logo se contentará com o cancelamento dos famigerados 20
centavos. Sou obviamente contra o vandalismo, o desrespeito às instituições e
às pessoas. Coisas que costumeiramente acontecem nesses protestos. Já virou
clichê dizer que os baderneiros são minoria, o que acredito ser verdade, mas,
de certa forma, são protegidos pela maioria. Fico contente que o povo
brasileiro tenha acordado de um estado de letargia de vinte anos, espero que
não seja só um espasmo de um moribundo, mas sim um verdadeiro despertar
pra luta por um país mais justo.
Ping: Os colegas de trabalho da
PMSC pensam de maneira semelhante?
Eliseu : Meus colegas de trabalho
felizmente em sua grande maioria pensam de forma parecida com a minha. Afinal
somos todos brasileiros e estamos no mesmo barco. Diferentemente do que pensa a
maioria, o policial hoje é um ser pensante, capaz de analisar e resolver
problemas com inteligência e não só com força. A grande maioria apóia as
manifestações e com certeza até gostaria de estar nela.
Ping: Qual foi o seu trabalho na
manifestação? O que você fez?
Eliseu : Eu particularmente não
estive próximo das manifestações à trabalho. Minha equipe havia saído de
serviço na manhã do dia vinte, fomos convocados a retornar ao quartel às 17
horas para compor um efetivo reserva que seria utilizado se necessário.
Permaneci na sede do 4º batalhão até o início da madrugada e como não houve
necessidade de emprego o efetivo foi liberado.
Ping: No desfecho da manifestação
de quinta-feira, 20 de junho, um policial foi ferido por uma pedra. Por que
isso ocorreu?
Eliseu : No fim da manifestação
um pequeno grupo insistia em manter o bloqueio da ponte. O evento já estava
praticamente encerrado, as pessoas já voltavam para casa e a ponte permanecia
bloqueada por esse pequeno grupo. Alguns motoristas se revoltaram com a
situação e houve um pequeno confronto com esses manifestantes. Nesse momento,
houve a necessidade de intervenção policial no sentido de liberar a ponte antes
que algo mais grave ocorresse. Foi na liberação da ponte que um policial foi
atingido no rosto por um objeto que uns disseram ser uma pedra e outros uma
garrafa.
Ping: O manifestante que
arremessou a pedra contra o policial foi encontrado e detido?
Eliseu: Até o momento não tive
informação sobre o autor da agressão, apesar da quantidade de olhos e câmeras
no local o autor não teria sido identificado.
Ping: Diversos pessoas, infiltradas nas manifestações
usaram drogas ilíticas, como a polícia atuou nesse caso?
Eliseu: As pessoas que usaram
drogas durante as manifestações, lá usaram porque lá estavam, são usuários de
drogas e usam onde querem, se algum foi flagrado creio que foram tomadas as
medidas que se tomariam em qualquer outra situação.
Ping: A Aprasc também pode parar
para se manifestar em breve? Tem algo marcado? O que está ocorrendo?
Eliseu: A Aprasc tem uma assembleia
extraordinária no próximo dia 27 de junho. A entidade tenta negociar com o governo
desde janeiro, quando o Raimundo Colombo ignorou a data base dos
servidores estaduais instituída por ele mesmo um ano antes. Temos propostas de
melhoria salarial e de condições de trabalho que foram apresentadas ao
governador e que, segundo ele, no dia 27, teremos alguma resposta. Não está
previsto nenhum tipo de greve ou paralisação. Nós militares somos privados
desse direito.
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