sexta-feira, 21 de junho de 2013

Polícia manifestante

Repórter Ping-Pong

Muitos foram os coros das manifestações em Florianópolis. Uns gritavam pela não violência, outros, execravam os participantes partidários. Educação, saúde, fim da corrupção. E no volumoso ritmo das pautas, outra cantiga chamou atenção. Era o uníssono entoado quando os manifestantes se aproximavam dos policiais militares: você aí fardado, também é explorado!

Na expressão, os PMs pareciam constrangidos. Como se tivessem essa consciência. Policial Militar desde 2006, Eliseu dos Santos David concedeu entrevista ao Repórter Ping Pong não para mostrar a opinião da instituição, para isso, há assessores e coronéis preparados. Ele traz a voz de um trabalhador, de um cidadão empenhado em uma profissão de risco à serviço dos catarinenses.

Entre as principais revelações, está a de que sua maior vontade era a de que seus colegas seguissem os protestos junto dos manifestantes. Mas, logo lamenta a inviabilidade desse acontecimento, porque estão ali para trabalhar. E traz uma novidade: em 27 de junho, os PMs reivindicarão a sua pauta.


Repórter Ping-Pong: Desde quando você é Policial Militar?

Eliseu dos Santos David: Ingressei na PMSC em 16 de janeiro de 2006. Após ser aprovado num concurso público com quatro etapas e dezenove mil inscritos em todo o estado.

Ping: Por que ingressou nessa carreira?

Eliseu : A princípio entrei pra polícia em busca de um emprego estável, mas logo no início do curso de formação, que durou nove meses, percebi que havia feito uma escolha para a vida inteira. Identifiquei-me com o trabalho policial militar e hoje não troco esse trabalho por nenhum outro. 

Ping: Como cidadão brasileiro, de que forma você enxerga às manifestações que ocorrem nesse momento no Brasil? Faça um panorama geral?

Eliseu : Vejo essas manifestações de forma positiva, numa opinião genérica. Claro que como todas as coisas elas tem mais de um lado a ser olhado. Concordo inteiramente com o protesto pacífico. O que não aceito é que oportunistas aproveitem essas ocasiões para fazerem seus palanques políticos e hastearem bandeiras vermelhas com a foice e o martelo. São tão perigosos quanto os que estão no poder quando tem em suas mãos uma massa cega.

Acho que essa geração está ainda engatinhando no que diz respeito a se manifestar, mas ao menos começou. Falta foco. Precisam eleger uma prioridade e focar nela. Uma coisa de cada vez. Se ficar como está, logo se contentará com o cancelamento dos famigerados 20 centavos. Sou obviamente contra o vandalismo, o desrespeito às instituições e às pessoas. Coisas que costumeiramente acontecem nesses protestos. Já virou clichê dizer que os baderneiros são minoria, o que acredito ser verdade, mas, de certa forma, são protegidos pela maioria. Fico contente que o povo brasileiro tenha acordado de um estado de letargia de vinte anos, espero que não seja só um espasmo de um moribundo,  mas sim um verdadeiro despertar pra luta por um país mais justo.

Ping: Os colegas de trabalho da PMSC pensam de maneira semelhante?

Eliseu : Meus colegas de trabalho felizmente em sua grande maioria pensam de forma parecida com a minha. Afinal somos todos brasileiros e estamos no mesmo barco. Diferentemente do que pensa a maioria, o policial hoje é um ser pensante, capaz de analisar e resolver problemas com inteligência e não só com força. A grande maioria apóia as manifestações e com certeza até gostaria de estar nela.

Ping: Qual foi o seu trabalho na manifestação? O que você fez?

Eliseu : Eu particularmente não estive próximo das manifestações à trabalho. Minha equipe havia saído de serviço na manhã do dia vinte, fomos convocados a retornar ao quartel às 17 horas para compor um efetivo reserva que seria utilizado se necessário. Permaneci na sede do 4º batalhão até o início da madrugada e como não houve necessidade de emprego o efetivo foi liberado.

Ping: No desfecho da manifestação de quinta-feira, 20 de junho, um policial foi ferido por uma pedra. Por que isso ocorreu?

Eliseu : No fim da manifestação um pequeno grupo insistia em manter o bloqueio da ponte. O evento já estava praticamente encerrado, as pessoas já voltavam para casa e a ponte permanecia bloqueada por esse pequeno grupo. Alguns motoristas se revoltaram com a situação e houve um pequeno confronto com esses manifestantes. Nesse momento, houve a necessidade de intervenção policial no sentido de liberar a ponte antes que algo mais grave ocorresse. Foi na liberação da ponte que um policial foi atingido no rosto por um objeto que uns disseram ser uma pedra e outros uma garrafa.

Ping: O manifestante que arremessou a pedra contra o policial foi encontrado e detido?

Eliseu: Até o momento não tive informação sobre o autor da agressão, apesar da quantidade de olhos e câmeras no local o autor não teria sido identificado.

Ping:  Diversos pessoas, infiltradas nas manifestações usaram drogas ilíticas, como a polícia atuou nesse caso?

Eliseu: As pessoas que usaram drogas durante as manifestações, lá usaram porque lá estavam, são usuários de drogas e usam onde querem, se algum foi flagrado creio que foram tomadas as medidas que se tomariam em qualquer outra situação.

Ping: A Aprasc também pode parar para se manifestar em breve? Tem algo marcado? O que está ocorrendo?

Eliseu: A Aprasc tem uma assembleia extraordinária no próximo dia 27 de junho. A entidade tenta negociar com o governo desde janeiro,  quando o Raimundo Colombo ignorou a data base dos servidores estaduais instituída por ele mesmo um ano antes. Temos propostas de melhoria salarial e de condições de trabalho que foram apresentadas ao governador e que, segundo ele, no dia 27, teremos alguma resposta. Não está previsto nenhum tipo de greve ou paralisação. Nós militares somos privados desse direito. 


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