quarta-feira, 12 de junho de 2013

Paixões e balas de borracha

Thaís Teixeira

A noite estava chegando quando um grupo de alunos do 3° ano, de um dos colégios de Florianópolis, começou a se aglomerar no centro da cidade, próximo a uma praça. De lá, seguiriam para o Terminal de Integração de Florianópolis, o Ticen, para juntar-se a outras centenas de jovens que gritavam para pedir a redução da passagem de ônibus, que aumentava de R$ 2,80 para R$ 2,95. O ano era 2010, a polícia foi colocada nas ruas para conter os manifestantes, a mídia os chamavam de baderneiros, desocupados. Três dias de protesto, nenhuma ponte fechada e o que se conseguiu foi a diminuição de simplórios R$ 0,05.

Imagem: doc Dois 
De lá pra cá, mais nenhuma manifestação contra valor da passagem foi realizada.Três anos de paz e sossego, só incomodados pelos motoristas e cobradores de ônibus que em 2012 e 2013 resolveram parar a cidade para exigir redução nas horas de trabalho e aumento no salário. Nesses três protestos, o silêncio imperou. Em 2012, o texto Cotidiano, publicado no Estopim, mostrou como a vida das pessoas, ao contrário do que se falava e pensava, não parou por causa da greve.

Imagem: Carta Capital
Não muito longe daqui, nossos estados vizinhos também protestam. Em maio, a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, conseguiu através de três meses de protestos e negociações que o aumento do valor das passagens de ônibus fosse vetado. Uma vitória que mostra o quanto os movimentos sociais e populares podem ser vantajosos se a sociedade, em vez de se calar, gritar junto. Agora, em São Paulo, mais manifestantes vão às ruas para exigir que as passagens de ônibus e metrô não subam para R$3,20. Enquanto os catarinenses se calam e os gaúchos comemoram, os paulistas convivem com as balas de borracha e o gás lacrimogêneo.

Em paralelo a tudo isso, a Copa das Confederações está para começar no Brasil. Todos festejam, gastam rios de dinheiro para ver uma seleção brasileira fraca e que está longe de alcançar seus dias de ouro novamente. Tem estádio que ainda não está pronto e estádio que precisa gastar mais milhões porque foi construído com erro de calculo. Talvez, as balas de borracha e o gás devessem se usado contra aqueles que roubam, roubam, roubam mas são encobertos pela paixão que esse país sente pelo futebol.

Volto para Florianópolis, para os catarinenses calados. Foi descoberto que o Centro de Integração Cultural, o CIC, que em 2009 sofreu uma reforma milionária, poderá ser fechado por causa de uma série de irregularidades na segurança. Das duas uma: Ou o estado foi, mais uma vez, roubado ou essa é só mais uma artimanha para outra reforma milionária que encherá mais os bolsos dos empresários e políticos. Aliás, aos desavisados, os donos das empresas de ônibus em Florianópolis são justamente eles: empresários ligados ao governo e políticos. Daí se pode até entender porque não tem como reajustar os salários dos motoristas e cobradores sem aumentar as passagens de ônibus. Ninguém quer ver seu milhão indo embora para o povo.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21 do portal Desacato
São os movimentos sociais e populares que fazem a sociedade mudar. Talvez se não fôssemos tão dóceis, os estádios para a copa já estariam prontos e não se roubaria tanto. Talvez o movimento Passe Livre funcionasse e não precisássemos aceitar as arbitrariedades de um governo corrupto e vendido para os empresários desse país. Talvez já tivéssemos passado do “País em Desenvolvimento” para “País Desenvolvido”, talvez, talvez, talvez, talvez... Enquanto aguardamos ansiosamente a estreia do Brasil contra o Japão, em Brasília, e torcemos ardentemente pela sua vitória, os estudantes levam balas de borracha, trabalhadores são calados, índios são mortos, famílias são despejadas... E ainda dizem que esse é o país do futuro...

Para ir além:



Um comentário:

Leonardo Contin da Costa disse...

Parabéns pelo senso crítico apurado, Thaís! Você consegue melhorar a cada texto!