Leonardo Contin da Costa
Imagem: Thaís Teixeira
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Talvez tenha sido o protesto com maior número de participantes da história de
Florianópolis. As duas pontes (Colombo Salles e Pedro Ivo Campos) ficaram
entupidas de gente. Mas não apenas elas: tanto a cabeceira insular como a
continental, além de grande parte do aterro até as imediações do Centro Sul, na
avenida Governador Gustavo Richard, ficaram lotados de manifestantes – não
havia espaço para se mexer.
A passeata (ou procissão, como apelidaram alguns pela falta de um hino ou um
canto de protesto) iniciou antes do horário marcado, 18h. A aglomeração de
gente ao redor do Terminal de Integração do Centro (Ticen) era tanta que as
pessoas tiveram que se mover em direção à Assembleia Legislativa para que todos
conseguissem participar do ato. Desta vez, não houve parada para cantar o hino
em frente às bandeiras da Assembleia Legislativa, ao contrário do que ocorreu
na terça-feira, 18 de junho.
Novamente moradores da região, nas casas, nos prédios e nos carros saudavam a
multidão que passava. Bandeiras eram chacoalhadas das janelas, tal qual como na
manifestação anterior. E igualmente houve emoção por parte de muitos em ver
toda uma geração "despertando" para o fato de que, se unindo e
protestando, as coisas podem mudar.
E agora me coloco num lugar complicado. Sempre critiquei como alguns colegas
jornalistas relatam os fatos ao seu modo de vista, dando a impressão de que
foram parciais, de que colocaram seus princípios pessoais à frente da narrativa
do que verdadeiramente aconteceu. E constato que não conseguirei fugir disso,
pedindo perdão, desde já, àqueles que tiveram visão diversa da minha durante o
andamento do manifesto.
Em primeiro lugar, constato que o protesto de terça-feira pareceu organizado e
as pessoas tinham um objetivo comum. Ao final da manifestação, todos se
reuniram no Ticen e houve votação para saber o que fazer a partir dali. Ontem,
durante muito tempo, não houve grito de guerra comum e cada um berrava o que
bem entendia. Palavrões direcionados às mais diversas autoridades foram
entoados, demonstrando acentuado preconceito (indo ao encontro do objetivo de
muitos), ao dizer que determinada política "precisa de homem", que
outra "gosta mesmo é de mulher", que outros inúmeros políticos
bastante vistos nos jornais nos últimos dias "são gays" ou que deveriam
"tomar naquele lugar" (penso que chamá-los de ladrões seria muito
mais coerente). Não houve (até mesmo pela enorme quantidade de pessoas), ao fim
do ato, um manifesto comum ou uma direção a ser tomada a partir dali.
Teve também (não só em Florianópolis, mas em todo o Brasil) a divergência
acerca da "permissão" ou não para militantes partidários carregarem
bandeiras - fato que gerou brigas em inúmeras cidades. Uns reivindicam seu
direito à livre manifestação e liberdade de expressão, portando todo e qualquer
elemento (lícito) que queira carregar e bradando que certos partidos já estão
na luta há muito mais tempo que os "novos rebeldes" e, por isso, têm
direito a essa visibilidade. Outros achavam que a presença de bandeiras
partidárias e de determinados movimentos, por serem "o motivo do
descontentamento geral da nação", deveriam ser excluídas do
ato. Equação difícil de ser solucionada.
Teve também um grupo de cerca de 500 pessoas que manteve as
pontes trancadas por mais de 5h. É certo que é direito manifestar. Mas será que
também é legítimo deixar trabalhadores que saíram de casa às 6h da manhã, para
trabalhar, ficarem presos até meia noite nas filas das pontes? Lembrando que
estes mesmos trabalhadores, hoje, às 6h, deveriam novamente estar em seus
postos de trabalho, sob risco de descontos nos salários ou até mesmo
demissão.
A quantidade de latas e garrafas de cerveja jogadas pelo chão, nas ruas, praças
e pontes, após o término do ato, também provou que muitos queriam mais um
Carnaval fora de época do que um protesto pacífico. Montes de bitucas ( de
cigarros e derivados) também foram encontrados nesta sexta-feira por onde a
multidão passou.
Vozes experientes de outros Carnavais - ops, de outros manifestos - disseram
ter ficado decepcionadas com o que viram ontem à noite em Florianópolis. Alguns
chegam a dizer que só constataram o que já sentiam nas redes sociais há algum
tempo: uma juventude alienada, individualista e sem uma proposta concreta
coletiva de mudanças.
Penso, contudo, que apesar dos pesares, o saldo parece positivo. Toda essa
multidão que saiu às ruas em Florianópolis e em todo país tem dado um recado
claro aos políticos, ao Judiciário e aos meios de comunicação: a população está
debatendo política e políticas e exige mais eficiência, transparência e
honestidade dos Três Poderes e dos meios de comunicação. Quem tiver
ouvidos, ouça!
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