sábado, 4 de maio de 2013

O estopim de uma revolução partidária

Eis a Rede Sustentável: Novas estruturas políticas e um pensamento voltado para o social e o ambiental

Rafaela Bernardino e Thaís Teixeira

Marina Silva, por Gessony Pawlick Jr.

O atraso inquietava e gerava ainda mais expectativa. Talvez o horário no relógio de Marina Silva ainda estivesse de acordo com o de sua cidade natal, Rio Branco, no Acre. Ou, como disseram os organizadores, ela estivesse realmente cansada por conta da agitada agenda do dia. Até mesmo o trânsito infernal da Capital pode ter sido a causa do atraso de quase 50 minutos da presidenciável. 

Estávamos no auditório da reitoria, na UFSC. 18h30min, uma sexta-feira à noite. Era de se esperar que o debate com a fundadora do partido Rede Sustentável tivesse pouca adesão. Mas não foi bem assim. Quanto mais as horas se adiantavam, mais o auditório enchia de jovens, adultos e idosos. As cadeiras e corredores foram totalmente ocupados com expectativas de ver ali a ex-ministra do meio ambiente. 

A Rede ainda não é partido, está na luta para se oficializar. Ali na UFSC certamente conseguiria algumas boas centenas de assinaturas necessárias para criar a Rede. Enquanto esperávamos Marina, pranchetas com o formulário passavam de mão em mão. Vez ou outra, os organizadores faziam questão de pegar o microfone e esclarecer que aquilo não era uma filiação partidária. 

Já passavam das 19h, horário que a palestra estava marcada para começar, quando o auditório começou a esvaziar. O número inusitado de participantes fez com que o local do debate fosse transferido para o Elefante Branco, o salão de conferências da universidade, onde ocorrem as solenidades de formatura. O cenário era lindo, uma multidão ávida para saber o que aquele partido novo poderá oferecer ao país. 

19h42min, o professor responsável pelo Departamento de Botânica da UFSC, um dos realizadores do evento, convidou, finalmente, Marina Silva a ocupar seu lugar na mesa. Sob aplausos, a presidenciável apareceu com os cabelos presos de sempre, e um terno azul-escuro. Aquela noite, seu objetivo era falar sobre "Democracia e Sutentabilidade: Os Desafios do século XXI". Marina trouxe uma concisa explicação acerca do foco principal de seu novo partido: um governo com sustentabilidade. 

Com casa cheia, a ex-ministra começou o debate tirando fotos do público com o próprio celular. Disse, em suas primeiras observações, que não possuía nenhuma formação na área sustentável, mas que pela vivência, principalmente com Chico Mendes, foi possível ver de perto os problemas que o país enfrenta e que poderiam ser sanados com um mundo mais sustentável. 

Em seguida, disse que estamos vivendo uma crise econômica, social e ambiental, sendo a última a mais complexa de todas. Marina trouxe também suas próprias teorias sobre os modernos meios de comunicação e como eles afetam a política: "Não sou o tipo de pessoa que fica beatificando uma coisa ou outra, a internet é uma ferramenta. Está trazendo uma verdadeira revolução.”

Em um segundo momento, a fundadora da Rede questionou o público: "Qual a razão de estarmos como estamos? Estamos cada vez mais amarrados pela ética das circunstâncias. Estamos em uma verdadeira crise civilizatória e não temos know how para sair dela. Vejam os gregos, os romanos, todos eles tiveram seus ápices civilizatórios. Nós não temos acervos de experiências suficientes para lutar contra isto. Mas nós temos a integração, a conexão mundial, coisa que eles não tinham."

Marina falou também de atitudes clínicas e cínicas. A primeira, depois de dado o diagnóstico é procurada uma solução para um bem comum. Já a segunda, o importante é tirar benefício próprio, não importando o motivo. Para exemplificar, a Ex-Senadora falou da Rio +20:


"Em 1992, nós já sabíamos o que deveria ser feito para a preservação do meio ambiente, mas nada aconteceu. Vinte anos depois quando deveríamos colocar as coisas em prática, é dado um prazo de 3 anos para elaboração de objetivos e então, em 2015, vamos finalizar para que em 2020 possamos agir. Isto é uma atitude cínica."

Em seu modelo de sustentabilidade, Marina trouxe mais três importantes eixos em comparação com os quatro das Organizações das Nações Unidas, são eles: sustentabilidade estética, ética e política. A Ex-integrante do PV explicou que além do modelo sustentável econômico, social, cultural e ambiental, é preciso ter um modelo estético, que valorizaria não o material, mas sim o simbólico: "Existem coisas que devemos preservar. Se, por exemplo, alguém quisesse transformar em brita o Pão de Açúcar, ninguém deixaria, o mundo não ia deixar, justamente porque é algo que tem seu sentido estético simbólico.” 

No encerramento da conversa, a presidenciável falou do modelo sustentável político: "Não existe salvador da pátria. Existem homens e mulheres dispostos a ajudar seu meio social.” No meio político, Marina acredita que cada um deve ser o seu próprio salvador: "Temos que ter uma sustentação política. A corrupção ainda não é um problema nosso. No dia que a corrupção for um problema nosso, será resolvido. Só acabaram com a escravidão porque ela passou a ser um problema para todos.” 

Há uma frase que Marina Silva citou logo quando chegou ao auditório. Ela fez alusão aos movimentos populares que explodem no mundo e colocou em sua voz o que os jovens estão gritando "Os nossos sonhos não cabem nas urnas de vocês." Ao final da palestra, uma provocação aos que lá estavam: "O jovem não pode ser pragmático, e sim sonhador”.

Um comentário:

Anônimo Pseudônimo da Silva disse...

De mulher acreana para mulher acreana: MARINA!