segunda-feira, 6 de maio de 2013

O comum em nós

Ricardo Toledo

Num cemitério mal cuidado o corpo jaz no sepulcro. Colegas ao redor relembram a vivacidade, originalidade e alegria com a qual aquele Homem Comum, título do livro de Philip Roth, viveu sua existência. Resgatado do túmulo pelo autor, nem tudo na vida do agora homem enterrado foi felicidade. As aflições, ansiedades, incertezas, medos e dificuldades familiares são expostos de forma surpreendente na escrita de Roth, hoje considerado um dos maiores escritores vivos.

Foto: Richard Drew / AP
Trágico, Roth analisa em seus livros os maiores eventos históricos do século 20 mostrando como o indivíduo é sempre esmagado pela vida. De origem judaica, já foi vencedor do prêmio Pulitzer por Pastoral Americana, e é agora um romancista cotado ao Prêmio Nobel. Muitas de suas ficções envolvem temas quase autobiográficos e há muito a se conectar entre o autor e as vidas e vozes dos personagens das suas ficções.

Em Homem Comum, Roth descreve o caráter humano com a proximidade de um amigo íntimo. De maneira simples, o leitor é absorvido pela leitura, reconhecendo as angústias humanas no perfil de um homem acima de qualquer suspeita. Um Publicitário de renome, sortudo com as mulheres, esportista e rico, assim o protagonista do livro alimenta o ideário de felicidade contemporânea, no entanto, para um homem comum, os problemas aparecem na virada da esquina.



Uma artéria entupida revela sua fragilidade humana perante uma vida auto-suficiente, egoísta em alguns momentos. O problema no coração o faz invejar a boa saúde do próprio irmão mais velho, Howie, realizado na vida pessoal e um parceiro fiel em todos os momentos de sua vida.

As sucessivas internações o fazem rever os conflitos com as mulheres, as amantes e os filhos ausentes - influenciados pela ex-mulher deixada por uma aventura com uma modelo 30 anos mais nova. A única felicidade que resiste às suas decisões isoladas de esconder os problemas em que vive é sua filha Nancy, um símbolo de esperança na tortuosa espera do temerário trem da morte que se aproxima da estação.

Constatar as doenças, os cânceres, e os infartos dos amigos de idade do protagonista deixa o gosto amargo da morte na boca do leitor. Há quem se escandalize com temas profundos como este, mas Roth filosofa sobre o assunto de maneira natural. Afinal, quem não seria capaz de visitar o cemitério e conversar com o coveiro que em breve jogará uma pá de cal em sua futura cova?

Para Roth, o envelhecimento é a aproximação gradativa da morte. Homem Comum revela as incertezas da vida pós-moderna: corremos sem parar, sem sabermos ao certo para aonde estamos indo. Sabemos apenas o fato de que, se pararmos, a fina casca de gelo pode-se romper e nos fazer afogar em nossas próprias agonias.


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