quarta-feira, 1 de maio de 2013

Costurando a vida

Detentas do Presídio Feminino de Florianópolis têm oportunidade para encontrar novas perspectivas com o projeto Malharia Social

Thaís Teixeira

São 11h da manhã. O dia está muito claro e exibe aquele sol, que pede praia, ilumina o céu e queima a pele. Chegamos ao Presídio Feminino de Florianópolis para fazer a primeira captação de uma matéria da universidade. Ali, num galpão entre a 5ª Delegacia de Polícia e a Penitenciária Feminina, o projeto Malharia Social, que ocorre desde o início desse ano, ensina as mulheres presas em regime semiaberto a produzir artigos de vestuário. Criação, desenho, corte, costura, confecção e a qualificação empreendedora. É tudo com elas!

Foto: Divulgação

Meu interesse na gravação são as mulheres. Quero falar com elas, ouvir seus depoimentos, mostrar suas realidades. Felipe Rodrigues, coordenador e idealizador do projeto, conversava empolgado com a gente. Eu via no seu semblante a dedicação de um professor que ao conhecer a história das detentas, quis mostrá-las outros caminhos. Pouco se sabe a respeito do que por lá acontece no submundo das prisões. Na verdade, sabe-se apenas que as pessoas que ali entram, costumam sair muito pior.

Os olhos castanhos de Felipe me diziam muito. Eles brilhavam como os de uma criança e tinham a emoção e a esperança de quem quer mudar o mundo, ou pelo menos uma realidade. A Malharia Social é a sua aposta na recuperação das mulheres que estão na penitenciária. É a possibilidade que elas têm para almejar uma melhor condição de vida ainda que estejam presas. E também uma preparação para a futura  liberdade e a ressocialização a fim de que possam voltar a viver com dignidade e de que não cometam novos delitos.

“Elas não fazem nada lá dentro, têm muito tempo livre. Precisam se ocupar com alguma coisa, de preferência algo que dê algum retorno a elas”, falava Felipe enquanto eu esperava ansiosa a chegada das presas, mas elas não desceriam naquele dia. A greve dos agentes penitenciários impedia que as detentas autorizadas saíssem do presídio para trabalhar no galpão.

Na ocasião, apenas três trabalhavam ali, devido às dificuldades para se conseguir a liberação do juiz às mulheres do regime semiaberto. Sem isso, elas não podem  descer a ladeira que separa as máquinas de costura de suas celas. “Esse é nosso maior entrave. Eles acham que elas vão fugir. Mas elas têm o direito de trabalhar fora da penitenciária, pelo tipo de regime que estão inseridas.”

Malharia Social

Por meio do projeto, as mulheres receberão qualificação técnica na área de confecção/malharia. Serão realizados, periodicamente, cursos de qualificação profissional, em conjunto com instituições como a faculdade de Design em Moda da Estácio que realizará o acompanhamento diário das atividades desenvolvidas na malharia, além de cursos de capacitação aos sábados. Além disso, elas receberão uma remuneração mensal que, na pior das hipóteses, será de um salário mínimo (estipulado pela Lei de Execuções Penais, nº7210).

O objetivo principal do Malharia é que ao serem libertadas, elas possam continuar trabalhando, ale de se manterem por algum tempo até encontrarem um emprego fixo. Elas também podem optar por pela permanência na área de confecção/malharia, já que terão conhecimento prático e teórico durante o período em que cumpriu a pena.

Será feito também um acompanhamento periódico às presas que forem colocadas em liberdade e que passaram pelo projeto, a fim de proporcionar um apoio psicológico ou a recolocação em outra empresa caso venha ter algum tipo de problema profissional, pessoal ou algum tipo de preconceito.

O Malharia Social conta hoje com o apoio educacional da Faculdade de Design em Moda da Estácio e Sá, do programa de extensão Ecomoda, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e do SENAC.

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