quinta-feira, 21 de março de 2013

Saudades do flerte

Cristina Souza

Tinha uma época que era fácil saber o que as pessoas queriam. O cara pedia teu telefone, ele ia ligar. Se ele te convidava para sair, ele tinha interesse. Se você falasse para irem jantar qualquer hora, era certo que você e a pessoa iam de fato jantar a qualquer hora. E “qualquer hora” não ficava perdida na terra do nunca. As pessoas se relacionavam de fato – e quando falo em se relacionar, quero dizer que havia olho no olho, existia o flerte, a expectativa e todo o pacote. Mas, e hoje? As coisas estão meio fora de controle, não?

Deixe-me ser mais específica: em tempos de Facebook e WhatsApp, fica difícil decifrar os códigos – se é que eles ainda existem. O cara te cutucou, curtiu suas últimas publicações no Instagram e opinou sua mensagem no Facebook. E só. Chamar para jantar? Até parece. E quando isso acontece, você ainda fica com dúvida se o cardápio será você.
A menina te chamou no chat do face, curtiu sua presença no evento tal, perguntou sobre o esquenta, mas na hora fingiu que nem te viu. E, então você pensa: quais são os sinais de hoje em dia, afinal? Em qual parte da história se perdeu o prazer de flertar (que coisa mais antiga), o frio na barriga e todas as expectativas?
Penso que essa bagunça toda é por causa do medo que as pessoas têm de se envolver. Quanto ao “se envolver”, refiro-me ao fato de conhecer a pessoa, de querer saber um pouco mais sobre ela, de querer um segundo encontro, um terceiro quem sabe. Se envolver, meu caro, não significa que a pessoa quer mudar o relacionamento dela no Facebook. Ou ir para sua casa no quarto encontro. Se envolver significa apenas conhecer, experimentar, se deixar levar. Mas isso parece cada vez mais complicado.
Sinto que as pessoas estão cada vez mais com medo disso. Quando você fica com alguém, sente que o clima foi bacana, que a coisa fluiu, qual o problema de continuar? Querer ir ao cinema não significa um pedido de casamento. Ser simpático não significa que você está apaixonado. Pelo amor de Deus (ou da divindade de sua preferência), é preciso mesmo ter que ficar pisando em ovos para falar alguma coisa por causa do medo da pessoa interpretar errado?
Isso piora se você for mulher. Acho muito engraçado que nós, mulheres, temos sempre que esperar o cara dar o passo. Temos que esperar ele ligar (ou mandar mensagem no WhatsApp), temos que esperar ele elogiar, temos que viver na eterna espera, senão somos umas atiradas. Se a gente ficou com um cara e resolve chamá-lo pra sair, pronto: ele pensa que você já está imaginando o enxoval dos dois e some do mapa. É tão difícil só aceitar o óbvio: que foi legal e que você não quer nada mais do que um novo momento bacana?
Sim, é cada vez mais difícil aceitar o óbvio. Temos tanto que ficar aceitando regrinhas disso, regrinhas daquilo, que acabamos nos esquecendo de fazer o óbvio: viver. Fazer o que temos vontade, deixar as coisas fluírem ou saber que não fluiu porque não era pra ser, não por medo do que supostamente seria. Se relacionar é algo muito legal. Olho no olho, então, nem se fala. E fazer as coisas livremente, então, é a melhor coisa do mundo. Pessoas lindas, se permitam. Cutuquem menos (até porque cutucar é brega) e ajam mais.  

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