sexta-feira, 22 de março de 2013

O Bairrista, a entrevista jamais respondida

Repórter Ping-Pong

 Dentro desse molenton, Maicá põe em cheque o próprio Bairrismo
Junior Maicá é o criador do jornal O Bairrista, cujo slogan chama a atenção: o maior jornal do Rio Grande, e do mundo também! Há um mês, fiz contato com ele para realizarmos uma entrevista que revelaria ao leitor do Estopim o audacioso projeto de Maicá. Ele topou e jamais retornou o e-mail com as respostas. Resolvi pesquisar sobre a história d'O Bairrista e descobri que sua trajetória começou no Twitter. Maicá twittava manchetes falsas e, em poucos dias, adquiriu tantos seguidores que resolveu ampliar o projeto. Dessa forma, nasce O Bairrista, que até hoje veicula apenas matérias falsas.

O site é um fenômeno humorístico e por isso chamou-me a atenção. Enviei inúmeros e-mails a Maicá, e na sua lixeira deve constar muitos desses pedidos. Eis que desisti das cobranças e resolvi praticar um jornalismo semelhante ao do Bairrista, ou seja, com matérias falsas. Note: as respostas que se seguem são forjadas pela minha imaginação e a matéria é um protesto, um desabafo. Um apelo. As perguntas foram mesmo enviadas ao dono d'O Bairrista, mas... Ah! Faça-me o favor!

Repórter Ping-Pong: Para situar os humanos que não sabem nada sobre a história do Rio Grande do Sul, quando que O Bairrista entrou no ar?

Junior Maicá forjado: Bagual, eu não sei nem o que comi ontem, não vou lembrar quando foi que inventei O Bairrista. Mas também, pra que importa isso, tchê? O site é o melhor do Rio Grande do Sul e do mundo. Isso é que tu tens que saber e falar na matéria.

Ping: A ideia era mandar as favas a imprensa burocrática com um projeto baseado no humor, ou na concepção da ideia vocês ainda não pretendiam trabalhar com notícias mentirosas?

Maicá forjado: Vocês é o cacete! O projeto é meu. A redação d'O Bairrista sou eu e mais ninguém. E por isso dá certo, pois não existe lugar pra vaidade. Eu sou meu empregado, meu chefe e eu pago meu salário. Dia desses, senti uma tristeza por não poder demitir ninguém e quase me demiti. Larguei mão porque teria que cumprir aviso e porque não tava a fim de calcular o valor da rescisão contratual.

Ping: Nesse Brasil "tão respeitoso com as leis", o trabalho realizado pela redação do Bairrista é perigoso porque pode caluniar alguém. Vocês mesmos pedem que os leitores incomodados enviem e-mail ao editor para que uma possível ofensa seja retirada do ar. Já passaram por essa situação?

Maicá forjado: Passamos! O presidente do Internacional vive mandando recadinhos reclamando que sou torcedor do Imortal. Não ligo, sou mesmo. Só não vê quem não quer. Os Colorados são uns recalcados, não é? Você deve saber dessas coisas. Enfim, deleto os e-mails deles pra não me incomodar com pouca coisa.

Ping: Para o resto do mundo, os gaúchos são vistos de duas maneiras: ou são machos com a faca na bota e dão porrada em qualquer desvairado que se meta a enfrentá-los, ou nasceram com o complexo de Pelotas. Por que vocês não têm atitude de macho e assinam suas matérias, estão querendo dizer alguma coisa?

Maicá forjado: Tu tá maluco, tchê? Só não te enfio a mão nos beiço porque nem vale a pena sujá-las assim. Os brazileiros é que são uns estranhos. Sabe de uma coisa, Santa Catarina é o estado brazileiro que eu mais admiro, pois separa a gente do resto do Brazil.

Ping: Os criadores do Bairrista, ou seus colaboradores, passaram pela tortura de um curso superior de jornalismo? Ou o humor já veio arraigado nas entranhas de seus DNAs e o português bem "dizido" é revisado por um editor?

Maicá forjado: Com essa merda de pergunta fica evidente que você não pesquisou nada sobre o site. Vou repetir: a redação d'O Bairrista sou eu. E não, não fiz curso de jornalismo nenhum. Eu mal gostava das horas no colégio. Tá louco, pra que estudar mais? Resolvi pular logo pra parte que a gente fica rico. Estudar cansa.

Ping: Por que limitar sua graça e humor aos riograndenses já que eles não entendem nada de tudo no mundo?

Diante do silêncio, perguntei outra coisa:

O Grêmio aparece muito mais do que o Internacional. Vocês têm preferências pelo clube das avalanches? Ou o clube mais Internacional do Brasil andou processando vocês?

Maicá forjado: Vamos pra próxima pergunta. Já falei sobre isso.

Ping: Lançar um livro do Bairrista não é um senhor absurdo? Vocês já mentem na internet, por que mentir na folha de papel também? E as árvores, heim?

Maicá forjado: Se o Bispo Edir Macedo pode eu também posso. Quanto as árvores, têm mais é que agradecer por poder contar a história do maior jornal do mundo.


Ping: Muitas são as ocasiões em que suas notícias ferem o brega, preguiçoso e mal cuidado estado de Santa Catarina. Vocês concordam que o Bairrista, nesses casos um irmão pentelho de SC, que seria o Rio Grande?

Maicá forjado: Você disse tudo. Santa Catarina é brega, os catarinenses são preguiçosos e o governo nem cuida do Estado. Em SC, bandido se cria e até queima ônibus, não é mesmo? Bom, o Rio Grande do Sul é uma República independente e desenvolvida, não precisa se diminuir e se preocupar com vocês, reles estrangeiros.

Ping: O Terceiro Caderno de vocês me lembra o Segundo Caderno, da cinquentenária Zero Hora, é mesmo uma alusão? Ou coincidiu de vocês terem a mesma criatividade?

Maicá forjado: A Zero que imitou O Bairrista. Eles têm muito o que aprender comigo.

Ping: Apesar de vocês terem foco no público riograndense, que repito, não sabe nada sobre tudo no mundo, é comum que leitores de outros estados acessem as mentiras veiculadas por vocês e deem feedback?

Maicá forjado: De outros estados não. De outros países. O Rio Grande é uma República independente e bem melhor para se viver. Sim. Os estrangeiros do Brazil também visitam nossa página. É que o país deles não tem nenhuma publicação tão boa.

Ping: Por falar em feedback, prestei-me a solidariedade de ser vosso seguidor no Twitter e percebi quão intensa é sua atividade na referida rede social. O que mais achei curioso é que costumam interagir com os leitores. Que isso? O entendimento de que na WEB 2.0 os leitores participam da construção dos sites? Falta do que fazer e sobra de tempo? Pouca gente pra responder? puxa-saquismo desenfreado? Ou um cuidado com o leitor que, para sempre, permanecerá visitando O Bairrista, se for bem atendido? Apesar de eu sugerir algumas respostas, aceito outra explicação.

Maicá forjado: Ai ai. Você me cansa. Comecei no Twitter. Amo Twitter. É por isso que dedico muito tempo a essa rede social.

Ping: Vocês aceitam nos seguir no Twitter? #OnlineEstopim

Maicá forjado: Não! Só sigo famosinhos.

Ping: O que dizer para os meninos que deixam a utopia fervilhar em seus corações e entram no jornalismo, querendo mudar o mundo. Depois, na faculdade, descobrem que se não fizerem um estágio num grande jornal, o mercado de trabalho não os aceitará por força dessa brecha em seu currículo e então descobrem que nas grandes redações a única coisa que pode mudar o mundo é o tamanho dos anúncios?

Maicá forjado: Deveriam fazer engenharia.

Ping: Para fechar, outro dia eu assistia a uma entrevista de dois bons jornalistas (não vou citar nomes para não encher o ego) e eles afirmaram que entrevistas congratulatórias, em que o repórter enche a bola do entrevistado, de nada servem, porque não são reveladoras. A tática que deve ser usada é: o que esse canalha está me escondendo? Pois bem, além de toda a verdade, que vocês mantém omitidas n'O Bairrista, o que mais vocês escondem de muito revelador do seu público?

Maicá forjado: Eu não deveria dizer aqui, mas imagino que não vai repercutir porque vocês não têm muita audiência, né?

Ping: é, mais ou menos.

Maicá forjado: Enfim, meu projeto é comprar a RBS. Já até consegui espaço na Rádio Gaúcha. Tenho negociado com os Sirostky.

Ping: A parte catarinense também?

Maicá forjado: Não, não. Eu não pretendo atravessar fronteira. Vou comprar a empresa toda e depois vendo a parte catarinense. Quero dominar a imprensa do meu país e depois causar uma segunda Revolução Farroupilha para, finalmente, separar minha gente do resto do Brazil. Quem viver, verá!


Foto: Diego Vara, colega da Zero Hora

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