segunda-feira, 25 de março de 2013

Fazendo o que o Diabo gosta

Ricardo Toledo


 Dilma Rousseff deu, há pouco, uma infeliz declaração aos meios de comunicação. Disse que, em época de eleição, era permitido fazer o diabo nas campanhas eleitorais – isto é, para se eleger, tudo é permitido, tudo se faz, é um vale tudo. A declaração, em tempos de Marcha da Família com Deus pela Liberdade, poderia causar desconforto maior. Não foi o caso. Alguns jornais e revistas impressos deram destaque. Mas mesmo assim a repercussão foi branda, leve.

A frase foi um deslize infeliz. Dilma tentou improvisar, como seu antecessor que o fazia admiravelmente bem. Lula e suas metáforas do futebol esclareciam até a ascensão meteórica da empresa de seu filho Lulinha: “meu filho é o Ronaldinho dos negócios”. Ultimamente, Lula vem batendo um bolão em terras Africanas. Dilma, porém, utilizou uma figura de linguagem pesada. 

Se em época de eleição é permitido fazer o diabo, o que vem depois? Ao se elegerem o diabo fica pronto? Diabo novo em folha! É na conquista do poder que as trombetas do inferno, então, soam suas melodias demoníacas? É aí que os espíritos do mal saem das profundezas e encarnam nas mais bondosas almas terrenas que se elegeram apenas para o bem da população?

Mas esse negócio de “fazer o diabo” é diferente do “fazer para o diabo”. Fernando Collor de Mello conhece bem a artimanha de “fazer para o diabo”. A partir das denúncias de sua ex-mulher, Rosane, o público ficou sabendo das oferendas feitas nos porões da Casa da Dinda. Nos círculos do poder, na época, sabia-se que eram muitos os animais mortos em rituais comandados pela mãe-de-santo alagoana Maria Cecília da Silva. Ela tinha influência. Subiu a rampa ao lado de Collor no dia de sua posse. Revelação que também pouco repercutiu. Quem sabe estamos perdendo nossa capacidade de se espantar.

É compreensível Collor ter queda por misticismos e macumbas. Sua mãe, Leda Collor, era uma leitora assídua de Helena Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica e autora de “A Doutrina Secreta”. Madame Blavatsky, como é conhecida, teve uma profunda experiência mística ocultista. Suas obras eram uma síntese da possibilidade de se unir religião e ciência. Ela influenciou milhares. Inclusive os fundadores da Sociedade Vril, ordem que buscava orientação dos espíritos arianos através de contatos sobrenaturais. 

A Sociedade tinha entre seus membros ninguém menos que Adolf Hitler. Vril seria uma energia, uma força oculta, um ectoplasma de poderes ilimitados. Outro membro da seita era Dietrich Eckart, membro-chave no início do Partido Nazista. Eckart dizia ser o verdadeiro João Batista, aquele que iria batizar Hitler, o Messias salvador da Alemanha. Se o poder da Vril é uma força do bem ou do mal, não se sabe, mas a partir da Sociedade Vril eles realmente fizeram o diabo.

Agora, o fazer o diabo de Dilma é diferente. Ela não é voltada para essas coisas estranhas. No seu encontro com o papa Francisco mudou o discurso e disse a uma jornalista argentina algo que nos acalmou: “Se o papa é argentino, Deus é brasileiro”. A presidente e sua numerosa comitiva foram a Roma e se hospedaram em um dos Hotéis mais luxuosos da Itália. Alugaram vários carros e cometeram excessos desnecessários. Fizeram o diabo, mas na hora de pagar a conta colocaram as despesas no bolso do Deus brasileiro.

Foto: do amigo Wilton Junior, da Agência Estado

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