segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Eles, em tempos maquiavélicos

Prólogo

A sequência de palavras das quais estás próximo, intituladas Eles, em tempos maquiavélicos são espasmos cerebrais que senti ao terminar a leitura de Renato Russo - O filho da Revolução uma excelente (eu deveria usar um palavrão aqui) biografia que o jornalista paraibano Carlos Marcelo escreveu sobre o vocalista da Legião Urbana.


Há que se ressaltar, o Estopim está de volta! Por competência mostrada ou falta de opção no mercado, a diretoria renovou meu contrato por mais um ano. Houve uma faxina na casa e a chefia exigiu àqueles que ficaram deveriam dar nome às carroças que dirigem. Não bastam ter nome as colunas do corpanzil humano, além da dorsal, cervical e vertebral, teremos uma quarta, localizada na cabeça, no cérebro.


Poucos personagens importantes dos dias atuais têm se preocupado em contemporizar. Também estou convicto de que poucas pessoas têm sabido ser importante em nosso tempo. Talvez por não saberem da sua singular importância.


Muito se projeta para o futuro, afinal, o fim do mundo não veio, as máquinas continuam sendo desenvolvidas e as cidades mudaram de prefeito. Também somos ótimos saudosistas, entretanto, é tempo de contemporizar.


No embrião dessas ideias novas, convoco Renato Russo para me ajudar, pois em seu tempo ele também contemporizava. Não foi o único, apenas um deles já que foi mesmo o filho de uma revolução. Ele estava em Brasília quando a Capital de Juscelino Kubitschek foi tomada pelos golpes da ditadura. Participou da efervescência cultural que o rock provocou na cidade e esbanjou mensagens irrefutáveis a sua geração.


Nesses tempos, limpar a chaminé ganhou reforço. Os espasmos mentais que senti, despertaram outros efeitos em meu corpo. Resolvi cansar também os olhos e as mãos escrevendo umas linhas prolixas que certamente não atingirão a consciência da meia-dúzia dos meus leitores. Entendo, sobretudo, que não só o cantor - como Renato Russo - tem o dever de apresentar ideias como também o escritor e ainda mais o jornalista, esse cara de pau que diz trabalhar a serviço das pessoas.


Diante desses reforços explicativos é que me lanço a novos desafios, e se desafiei a mim mesmo não sei o que me espera no final. No mais, as pérolas que se seguem, são em sua maioria plágio, e não me incomodo em assumi-los, pois o homem cresce e copia aquilo que lê, os mais ousados reciclam. Nas palavras de Millôr Fernandes: todo homem nasce original e morre plágio. Enfim, um escritor sem estilo.


Por fim, contemporizar é a maneira mais honesta que encontrei para ter vontade de me comunicar. Não! Eu não quero ser um escritor sem leitores, mas antecipo: as abordagens serão chatas, algumas infantis. Aqueles que me derem crédito é porque com as minhas sequências de palavras se identificaram.


Eles, em tempos maquiavélicos


Eles não conseguem distinguir se é raiva ou perplexidade o que sentem agora. Há rios de lágrimas trancafiados em seus olhos, mas o medo de desperdiçar água impede que elas rolem, rolem, rolem.


Eles estão acompanhados de uma melancolia imensurável, inefável, descomunal. Cercados de questionamentos andam com vergonha de serem apenas jovens.


Os caras da idade d’Eles e suas garotas tinham forças para tentar mudar o mundo. Isso está evidenciado na música e na arte daquele tempo, que nem está longe e que eles agradecem por encontrarem arquivados em seus corações e nos corações.


O motivo, porém, de sua profunda tristeza é saber que os jovens do passado, hoje, estão estagnados pela velhice, ou morreram tentando e esse tempo passou, passou, passou.


Então eles lamentam que esses artistas contemporâneos não têm um pingo de vergonha na cara. E por isso eles detestam esses tempos em que a lama vale milhões e é idolatrada.


Não se enxergam valores nos fenômenos de venda musicais da amaldiçoada contemporaneidade. Algum desses artistas teve a genialidade de mencionar o Mensalão para rimar em suas letras fajutas e ignorantes? Apresente-se!


A mídia, a quem alguns se filiam por debilidade ou esperanças burras, não está aí para a integridade dos ouvidos humanos. Ela garante seus picos de audiência e na matemática da existência, quando uns ganham muito, outros perdem o equivalente. Quem será “semo” os outros?


A composição da família brasileira desses tempos traz algum conforto. Os pais de hoje (jovens mal sucedidos do passado) terminam seus casamentos cedo. Então, seus filhos não crescem no ambiente familiar perfeito. São malditas crianças que ganham maturidade de adulto ainda na cobrada adolescência.


E enfrentando os percalços da vida, eles encontram outros jovens com histórias semelhantes. Esses são Eles, que partilham os mesmos dramas e fazem tudo junto: sexo, maconha, bebidas, rock. Eles dormem cansados de tanto pensar na solução para o fim de suas sofridas existências. São uma turma de ensaístas da lucidez.


Eles são sobreviventes de milhões de revolucionários que se perdem no tempo. Eles se relacionam e chamam isso de amizade. Eles têm o dom de salvar angústias alheias e assim salvam a si mesmos. Eles comentam que perderam 365 dias para fazer algo significativo, relevante, contundente.


Eles reúnem-se em mesas de bar, brindando os resquícios de bons momentos que esses tempos maquiavélicos insistem em evitar, fazendo imperar a dor. Mas enquanto eles resistem de pé, tornam-se ainda mais vibrantes, enérgicos, fortalezas, baluartes, se sentido jovens, jovens, JOVENS.


Epílogo


Detesto epílogos. Eles resumem tudo o que foi dito. Por que dizê-lo?


Nenhum comentário: