domingo, 20 de janeiro de 2013

Balas e batalhas perdidas

Faz pouco mais de um mês desde que Adam Lanza marchou para a escola Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, e massacrou 20 crianças e seis adultos antes de tirar a própria vida. Desde então, um massivo debate sobre um rígido controle de armas se alastrou sobre o país, e uma espécie de terror dominou outras famílias com a real possibilidade de perderem os filhos nas mãos de inúmeros psicopatas que habitam a America do Norte. Agora eles são vítimas do próprio mecanismo que criaram.

Barack Obama apelou ao congresso e assinou proposta com 23 decretos para combater a violência com armas de fogo. Uma tentativa de frear a epidemia alastrada por séculos de culto à violência, somado ao direito constitucional de porte de arma. A segunda emenda de 1791 diz: "Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido”. Um interminável desejo de defender a pátria.

Em números, 300 milhões de armas estão nas mãos dos civis americanos, 40% do poder de fogo mundial é dominado pelos Yankees. O grande problema é compreender os inúmeros Lanzas, Cho Seung-Huis e James Holmes soltos pelas ruas. A facilidade do acesso às armas é o estopim da matança e o que os impulsiona. Desde o episódio em Columbine - aliás, o único que foi capaz de nos chocar, fazendo dos outros massacres meros reflexos nas nossas anestesiadas mentes -, houve uma retro-alimentação nesses ideais macabros. Cada um tem a possibilidade de se tornar pertence ao grupo, um se identificando com o outro. Não importa se vão massacrar crianças inocentes ou liquidar a vida de expectadores dentro de um cinema. O que importa é que não estão mais sós.

No Brasil - país que carrega a ostensiva taxa de 40 mil mortes por ano por arma de fogo -, nosso Herodes brasileiro realizou a matança na escola em realengo. Sem contar as balas perdidas que continuam a vitimar crianças e protegem os assassinos anônimos. Por enquanto não há nem sinal de vontade política de reverter a situação das armas ilegais que consomem vidas humanas por aqui.

Sobre Lanza pouco se sabe. Os jornalistas continuam tropeçando de local em local em busca de depoimentos.

Sua família e antigos colegas de formatura ainda não deram pistas satisfatórias. O provável é que ele era afetado por uma síndrome derivada do autismo, gostava de vídeo games e lia muitas histórias em quadrinhos. Nunca saía de casa. A única testemunha convincente é o rapaz que cortava seu cabelo, e cortar o cabelo é uma das únicas coisas que Lanza não poderia fazer sozinho. De resto, sua vida era reclusa em casa, comprando toda sorte de produtos via internet, alimentando sua sede de sangue juvenil, abastecida pela coleção de armas que a mãe mantinha em casa.

Em breve os repórteres terão de mudar a cidade e buscar informações sobre outro personagem, outro massacre deve logo acontecer. A lista de possíveis futuros atiradores é grande. Ex-combatentes de guerra atormentados, garotos que sofrem bullyng, psicopatas dos mais variados diagnósticos; todos submersos em seus mundos de perseguições e paranóias.

A cada dia, 24 americanos morrem em mãos de gente armada, de 8 a 9 mil por ano. Nesta macabra competição, o Brasil vence com ampla vantagem. Nem na guerra do Vietnã matou-se mais do que aqui. Mas o número de mortos nos Estados Unidos não deixa de ser expressivo para o mais rico país do mundo.

As medidas tomadas por Obama não serão suficientes. Já o acusaram de hipócrita porque seguranças armados até os dentes protegem suas filhas quando vão à escola.

Os que defendem o porte de arma nos Estados Unidos declaram: “as armas não matam: os estadunidenses matam!” E os brasileiros também.


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