domingo, 7 de outubro de 2012

Unidade de Tratamento Intensivo

Doente e respirando com dificuldades, o Estopim comemora seu primeiro aniversário

Há mais ou menos dois meses deixei aqui meu último texto. Estava sentada na redação do jornal, segurando as lágrimas e sem saber muito bem o que escreveria naquela despedida. Hoje, volto para uma postagem especial em comemoração ao aniversário do Estopim. Estou sentada no ônibus, indo para a redação de um portal de notícias que quer ser grande, mas não consegue por falta de organização e de jornalistas desatinados, como alguns dos que matêm o Estopim ainda vivo.

Esses dias disse à Horário que não tenho a mesma empolgação e vontade de escrever para outros sites como eu tinha com o Estopim. Apeguei-me a essa criança, enrrolei-a em meus braços. Doeu largar, dói está longe. Eu a vejo dar seus primeiros passinhos, mas também a vejo cair e voltar a engatinhar. Apenas me resigno a olhar.

Quando penso no Estopim, hoje, vem a cabeça Cazuza cantando "E aquele garoto que ia mudar o mundo, mudar o mundo, agora assiste a tudo em cima do muro". Ele é ousado, surgiu a partir da vontade louca e insana de estudantes de jornalismo que queriam, pelo-amor-de-Deus, um pouco de prática. De cinco alunos o grupo aumentou para sete, depois para oito e quando eu me desliguei da equipe contávamos com dez.

Éramos (e a atual patota ainda é) o único grupo de estudantes de jornalismo que tinha (tem) um projeto dessa magnitude e com a faca-e-o-queijo na mão para promover muitas mudanças no curso de comunicação social. O Estopim seria uma brilhante ferramenta para reivindicar  noticiar, promover uma melhor comunicação interna, além de oferecer algo melhor e menos institucional e careta que o Unisul Ontem - único jornal que a Unisul Pedra Branca tem. 

Mas ele ainda experimenta, testa e brinca como uma criança que está (re)descobrindo o mundo. Não se pode exigir de um pequenino, com apenas um ano de idade, que aja como um adulto de trinta. Não se pode forçá-lo a crescer antes de seu tempo. Primeiro ele tem que aprender a andar, parar de cair e deixar de engatinhar. 

Quando o deixei, seus sonhos eram tão grandes quanto o universo. Ele olhava as estrelas e queria pegá-las. Tinha uma saúde que parecia inabalável e uma vontade louca de querer conquistar os olhos de seus leitores. Mas, assim como qualquer humano, as doenças um dia aparecem e derrubam. 

Ele está na UTI mas há chances, é o que me dizem. Pergunto-me porque o deixei e a resposta vem clara: você estava fazendo mal a ele. É verdade, me sinto meio desnaturada e, porque não, um tanto culpada. Dirijo-me ao seu quarto, e o vejo respirar com dificuldades.

Ele me sorri, e fico mais tranquila. Aquele gigante E vermelho com riscos pretos destoa da imensidão branca dessa UTI. Ele é arredio, e mesmo com todas suas limitações desafia médicos, enfermeiros e até mesmo outros pacientes.

Em seu aniversário, levei um bolo, balões, vela, apitos e tudo mais que se tem direito. Deixei em seu quarto enquanto ele dormia sereno. Outros também vieram lhe dar parabéns e festejar seu um ano de vida, infelizmente, na UTI. Volto hoje aqui para despedir-me mais uma vez. Vou até seu leito, dou-lhe um beijo na testa e deixo outro um pedaço de mim com ele.
Crédito da ilustração: Gessony Pawlick Jr.
Thaís Teixeira

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