terça-feira, 2 de outubro de 2012

Um casal, um destino: melhorias

A tarde acabava e o horário era cada vez mais evidenciado pelo por do sol por detrás dos montes riscados pelo cinza e branco dos prédios. Nas ruas, os que trabalham, voltam às suas casas com os olhos baixos cansados do dia cheio, mas ainda mantêm a feição de quem não pode desanimar para que não seja deixado de lado ou trocado por outrem que fará seu trabalho por um salário dez por cento menor. “Há meses recebi um convite diferente, mas ousado: Vamos ganhar a vida lá em baixo?” Gilson Gomes não é parte de estereótipos baiano dançarino de axé ou que transita comumente pelas escadas do pelourinho, seus olhos não condizem com a fama de cidade alegre e colorida, até parece que não é mais filho deste chão. “Nasci, cresci e vivi na Bahia, mas chegou a hora que não deu mais pra mim”.

10 de maio e as notícias que chegam dos amigos que saíram daqui há poucos meses são boas e ele decide se juntar a eles e deixar Salvador. “Decidi de uma hora para outra e não pensei duas vezes assim que soube como estavam meus amigos”. Lá, deixa alguém que prometera se juntar a ele em breve, o nome dela: Cláudia Santos.
Numa cidade rural no interior baiano, Serrinha, cortada pela BR-116, próximo a Feira de Santana e a 191 km de Salvador, o salário mínimo é convencionado em meio salário, que já é mínimo. E é por estas condições que Claudinha, aos 19 anos, faz o êxodo comum e migra para a capital. Agora soteropolitana, porém não nata, a menina consegue o almejado e a situação muda. O mínimo agora já não é meio-mínimo e mais gente significa mais pretendentes.

Pouco tempo depois, outro objetivo é alcançado e a vida única passa a ser dupla com a certificação firmada através do “aceito” dito no meio da rua por Cláudia Santos, agora mulher de Gilson Gomes. Eles mudam para uma casa alugada, pequena, mas bem iluminada. A porta da frente da acesso à cozinha conjugada com a sala. O cômodo é atravessado e então o PVC da porta sanfonada é arrastado para mostrar o único pedaço da casa realmente zelado e bem mantido. Uma cama box com colchão de molas e um roupeiro grande o suficiente para perder-se lá dentro, tão sonhados, ainda não chegaram e enquanto perdura o imaginário a realidade vem à tona assim que a noite chega e os dois se deitam juntos num leito improvisado com um colchão fino de esponja e sob um travesseiro para cada. No banheiro apertado o chuveiro é cercado por uma cortina, a pia e o vaso lado-a-lado deixam um espaço vago que possibilita voltar pelo mesmo vão, sem porta, pelo qual entrei. “Eu não tenho ambição de ser rica, só quero um meio de sobreviver”. Ela se satisfaz com a rotina, já ele quer sempre mais.

As coisas não andam bem. Desempregado e passando certa dificuldade Gilson surpreende sua mulher: Ele quer mudar radicalmente. Com os olhos brilhando cheios de confiança ele opta por descer no mapa para subir na vida. Decide sair da Bahia para ir a Santa e bela Catarina. Será em 13 de Maio, celebrado na Bahia de todos os santos por ser a comemoração da abolição da escravatura. Cláudia se vê numa indecisão. Dois dias pensando sobre e então resolvem que ele vai primeiro e, assim que confirmada a boa nova, ela o encontra por lá.

Cinquenta minutos dentro do ônibus e o silêncio do percurso entre o centro de Salvador até o aeroporto Deputado Luis Eduardo Magalhães falam pela esperança duvidosa.

Dentro do avião e a ideia de mudança agora é tão certa quanto a distância entre Gilson e o mar que agora sobrevoa. Mais três horas e vinte minutos e uma voz suave e romântica dá a notícia mais esperada: “Bem Vindos a Florianópolis”.

Uma semana e o baiano percebe que não é um estranho entre os “Barriga-Verde”. Consegue emprego em um supermercado. Trabalhar todos os dias, passando por todas as feiras da semana, além de sábado e domingo não o impede de pedir que sua esposa, companheira de década, junte-se a ele.

Cláudia faz o mesmo trajeto, chega 10 minutos mais cedo e encontra, depois de agoniantes trinta dias, seu amado que a espera no saguão do aeroporto Hercílio Luz. O frio é novidade para os dois, porém, nada abala a esperança de quem viajou 2.638 quilômetros.

Para mim trabalho lá tinha, eu vim mais por causa dele

Adilson Costa Jr.

Nenhum comentário: