O sabor do mingau...

Lembra leitor do gosto do mingau que a nossa mãe preparava quando ainda éramos irresponsáveis criançolas? Ah que saudade! Sempre esperávamos ávidos pela sua chegada e, Deus do céu, a gente queimava a língua para levar o mingau a boca e começar a saciar a fome.

Não se come mais mingau. O meu era feito com Maizena. Famosa a Maizena. É uma metonímia a Maizena, assim como o Nescau. Assim era a Maizena do Mingau, nunca chamada de Amido de milho. Existem vários amidos de milho, mas a Maizena é soberana.

Puxa leitor, agora sequer come-se mingau. Jamais os pequenos que sucederem a nossa passagem na Terra saberão o seu valor. Essas crianças terão que amadurecer mais cedo também, a base de outras porcarias que não o famoso alimento de quem falo agora.

Ah o mingau. Por que não se tem mais mingau? Maurício de Souza, sim, o da Turma da Mônica, tentou imortalizar o mingau, dando esse nome ao bichano da sua personagem glutona, a tal da Magali. Será essa uma mensagem subliminar? Vá saber.

O que se sabe é que não se tem mais mingau. E é contra essa grande sacanagem que esse texto protesta. Oras, permanece tanta velharia ruim, mas deram um jeito de sumir com o mingau. Justo o mingau. Ficou o Danoninho, que também é alimento de criança, mas se foi o mingau.

Não sabe se preservar o ser humano e abriu mão do mingau. Que nostalgia! Aquele cheiro, sabor e temperatura únicas de mingau. Aquela coisa grudenta, mas rígida, forte, representava a força que teria quem a engolisse. O mingau falava por si só.

Ninguém desgostava do mingau. Mas fomos irresponsáveis, mal agradecidos e desatentos. Deixamos que o mingau saísse de linha. Tantas refeições desprezíveis, gordurosas e nada nutritivas. Por que o mingau? Por quê?

Poderiam sumir com o Toddy, porque já existia o Nescau. Poderiam sumir com a Pepsi, já que fizeram a Coca-cola. Não precisavam criar o Cheetos, Fandangos e nem nada, pois genialmente fizeram a Rufles. Mas, quem é o suplente do mingau? O mingau é insubstituível. Sim, mingau, você é insubstituível meu rapaz.

Resta-me pedir-te, ou clamar-te sinceras desculpas. Tenha piedade dessa humana raça desumana que te deixou no ostracismo das nossas memórias. Perdoe-nos mingau, não sabemos o que fazer. E se ainda houver alguma chance, volte mingau, volte e volte!

Nícolas David