segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Entre uma causa imediata e laços consistentes
   O Entusiasta
      Luciano Bitencourt
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- Sobre o que escrevo?

- Sobre a Unisul, escreva sobre a Unisul!

- Tudo bem!

Respondi tão rapidamente que mal me dei conta do desafio. Os caras estão sempre procurando deflagrar algum movimento; isso nem sempre é coisa que valha os anéis e meus dedos andam lisos ultimamente. É embriagante essa permanência em trânsito a que nos submetemos; há coisas em abundância a dizer e nada tão significativo que justifique a si mesmo.

Preciso de conextualização. O Capenga era uma publicação impressa irreverente tocada por estudantes da Unisul no início dos anos 2000. Escrachava as situações vividas na universidade com uma inteligência ingênua, típica de quem demonstra convicções em amadurecimento. Cresceu com o curso de Comunicação Social da Pedra Branca e foi o estopim de muitas ações que valorizaram a formação nessa área promovida pela Unisul.

Eram outros tempos. Parece que algumas gerações se foram. Não é exagero! Estamos falando de cerca de 10 anos e há uma evidente cesura (eu disse cesura: corte, fissura) entre os perfis daquela época e os de hoje. Sem juízos moralistas de valor, nem melhor nem pior. Era outra Unisul. Só o curso de Comunicação Social (à época com as habilitações de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e Cinema e Vídeo) reunia quatro dígitos de estudantes em dois turnos.

Alguém chegou a buscar comparações entre o Capenga e o Estopim. Talvez como forma de amarrar as temporalidades que os separam com algum fio que sustente a crença de continuidade no percurso do que tentamos construir na universidade. Um fio saudosista capaz de dar esperança ao prestígio que a Comunicação Social tinha e merece recuperar.

- Não há como comparar!

Tratei logo de expressar minha percepção porque não consigo ver semelhanças em organicidades tão díspares. O Estopim é multimidiático, errático, traz o que faltava 10 anos atrás e carece do que, julgo, era a verve da trupe ancestral. São propriedades (que fique claro!) de cada época. Os estopins têm mais energia, parecem mais criativos, são mais ávidos por realizações. Mas se enxarcam de superlativos, são ensimesmados; faltam-lhes as utopias que alicerçam os laços afetivos mais densos de um projeto coletivo.

Não há como comparar, é bom repetir. Porque também não há como comparar os momentos que os separam. O Capenga e o Estopim são boas referências para uma analogia quanto à organização Unisul. Em 2013 põe-se em movimento uma outra perspectiva de estrutura curricular, formatada para aproximar a universidade das espectativas sociais. Claro, há nisso uma tentativa de sedimentar recursos de sustentabilidade, também econômico-financeiros. E é aí que a analogia se materializa.

A visão tecnocrática de projeto (seja administrativo, acadêmico ou pedagógico) entende o termo sustentabilidade pelo viés da estrutura, pelo viés do que dá tangibilidade aos resultados esperados. É fato, contudo, que isso não é suficiente. Sem utopias que fortaleçam laços de convivência talvez não haja permanência para uma proposta de educação em que a formação se inscreve em múltiplas dimensões.

Objeto de desejo, a educação superior representa uma oportunidade de ascenção social ainda para poucos. No Brasil, apenas 17% das pessoas com idade entre 18 e 24 anos frequentam espaços de nível superior. Há uma enorme diferença salarial em favor dos que dispõem de diploma e um gargalo nos processos seletivos para ingresso no ensino superior. Além disso, o índice de evasão entre os poucos que conseguem agarrar a oportunidade é bastante significativo. Segregação socioeconômica e segregação intelectual ainda permeiam a educação superior brasileira.

Como os estopins, a Unisul busca identidade nesse ambiente de permanente transitoriedade; algo difícil de definir nos dias atuais e de conseguir apenas com projetos. É como espaço de permanente circulação que o Projeto Pedagógico Institucional descreve a universidade que se quer construir. Isso pede um portfólio diversificado de oferta com foco no conhecimento resultante desta nova organização; com foco na educação como patrimônio coletivo, ainda que financiada com recursos privados e com bolsas educacionais.

Em 2013 a Unisul deflagra as ações que buscam dar tangibilidade às concepções de universidade que cultua. O Estopim faz parte desse movimento. Enquanto produto é mais um entre muitos que povoam a vida universitária; o que na verdade o faz pertencer ao mesmo movimento é o desafio de tornar-se orgânico, fruto de laços consistentes de afetividade, para além de desejos pessoais para consumo rápido.


Luciano Bitencourt

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