segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Axioma da embriaguez

Encerrando verdades indiscutíveis, nasce essas confissões de boemia, dissecando o que vem a ser aquilo que o dicionário define como encanto, enlevo e arrebatamento, revelando até no pileque um pouco de poesia.

Neste gole amargo de uísque, em seu final eu vejo, quantas verdades já tiveram seu fim, ou quantos dogmas, aos poucos, me desconvenci. Vejo em seu final caramelado, um reflexo torto, que por vezes, por distração, não vi, um monstro agonizado, um algoz com peripécias por vir. Sinto os sentidos se perderem, dedos, lábios, pernas e a ponta do nariz, é o sinal inerente dos demônios a me coibir.

Nessa epopéia que se construirá a seguir, a itensificação dos males é mãe daquilo que começa tão feliz, entre risos, piadas, flertes e anedotas como lírico chamariz. A tontura conquista aos poucos, enquanto os diabretes aparecem, cada qual com seu estado infeliz, a especialidade de cada demônio, indiferentes nas qualidades da cevada fermentada ou do destilado anis.

Quebrando copos, bailando insones ou atrás de novo par a seduzir, digladiamos com demônios, deixando que vençam, enquanto vemos realidades a se desconstruir, edificando novas musas, vendo em fumaça lembranças ressurgir. Na visão embaçada, oblíquas paisagens saturadas, regredindo na física, sem espaço nem tempo a existir, só a máxima embriagada; a cada novo trago, novo pensamento a imergir. Dores, valores, libido, a tudo inconstantemente sucumbir. 

Para o álcool não há segredos, só a crua melâncolia por nosso espírito a possuir, sem residência de amparo, só pela língua que há de expelir, seja ideia ou desabafo, seja a fuga pela socialização para nossa solidão diminuir. 

Nada é certo, para essa nova realidade a qual se foi levada, o físico amortece, a língua fere e a visão engana - salve a natureza embriada! - que as pestanas pesa, e no adejar da mente, elimina consciência, consequência e qualquer moral adornada. Que enfrentemos nossos piores demônios, a cada novo trago e tragada, e que nos faça juz, o mistério de nossa amnésia alcóolica conquistada.

Gessony Pawlick Jr.

Nenhum comentário: