sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A solidão na juventude escondida pelo comodismo social

A solidão é um dos males que mais assola a sociedade, inclusive os jovens são cada vez mais solitários. Mas numa sociedade que preza pelas aparências, essa questão acaba sendo escondida e varrida para debaixo do tapete. 

Uma sociedade individualista como a nossa prega que as pessoas devem ser superiores às outras no âmbito profissional e pessoal. A concorrência no mercado de trabalho é um fator determinante para que a confiança nos outros seja algo cada vez menos existente. A comunicação, por muitas vezes, é apenas por interesses e ocorre através do computador ou do celular. Ninguém tem tempo para mais nada, por conta do imediatismo e da correria do dia-a-dia. É muito raro encontrar pessoas que se conhecem de verdade. 

Os tempos mudaram, vejo isso até pelos exemplos daqui de casa. O meu pai vive com a mesma turma de amigos há vários anos, são inseparáveis. Já eu não consigo manter relações constantes e íntimas com praticamente ninguém. As amizades de infância ficaram distantes e cada um tomou um rumo diferente na vida. 

Com as relações humanas se tornando mais inconstantes, as pessoas vão em busca de relações cada vez mais frias e menos sólidas. As noites saem em busca de companhia, mas nada que seja muito duradouro. Relações de uma ou poucas noites, sem amor, sem amizade, sem vínculos. 

Mas a sociedade vive muito de aparências, o que faz com que as pessoas finjam muito estar adequadas e se sentindo bem. Já vivenciei várias vezes comentários do tipo: “por que as pessoas em volta estão bem e eu não?” 

Se questionamentos desse tipo são recorrentes e feitos por diversas pessoas, pode-se concluir logicamente que as “pessoas em volta” não estão tão bem assim. 

A busca recorrente por relacionamentos e por uma vida social geralmente serve apenas para omitir a natureza solitária desses jovens desesperados. A natureza humana pede por relações e convívio, mas a sociedade preza pelo individualismo e pelas qualificações pessoais. Como sair disso? 

A reflexão é válida, pois o futuro dos jovens pode ser comprometido por conta do isolamento social e da solidão. Vi recentemente um documentário feito pela sessão Extra do site globo.com que mostra a vida de pessoas solitárias, que viveram “muita coisa” como a juventude de agora e acabaram em situações bem complicadas. Inclusive mostra um homem que frequenta diversos grupos de ajuda, até mesmo sem necessidade (como grupos de tratamento de câncer ou o AA). É uma situação semelhante à mostrada no filme “Clube da Luta”, mas nesse caso, não é fictício.

A introdução da matéria que mostra essas histórias é assim: “O mundo tem 7 bilhões de habitantes. Desses, 190.732.694 vivem no Brasil - um país que tem 79.245.740 pessoas conectadas à internet. Dentro desse universo de números que tentam parecer precisos, o que é ser precisamente 1? Sentir-se solitário dentro de um quarto escuro?”

Acredito que o pior tipo de solidão (se é que existe um “pior tipo”) e o mais recorrente é aquela em que você se sente só, não apenas num “quarto escuro”, mas no meio de uma multidão, sem se sentir pertencente àquele lugar. 

É preciso encontrar forças para driblar as adversidades impostas pela sociedade e não se sentir pior por conta da situação dos outros, que muitas vezes parece algo que não é a realidade.

Todos, sem exceção, somos solitários, de certa forma. A única pessoa que convive conosco por todas as horas e sabe de todos os nossos dilemas existenciais, é a gente mesmo. Só precisamos aceitar isso e procurar encontrar a companhia necessária com as pessoas certas. É melhor uma pessoa importante do que centenas de pessoas que não trazem a satisfação de uma companhia verdadeira.

Felipe Kowalski

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