quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Tempo, Tempo, Tempo...

O gosto e o cheiro repugnante do cigarro invadem os sentindos. O ar gélido entra pela janela e faz arrepiar todos os pelos do corpo. A cabeça lateja e os olhos ardem. No horizonte, centenas de pessoas atravessam apressadamente a rua. Elas vivem suas vidas medíocres de trabalhadores, estudantes, donas de casa. Passam presas a suas bolhas, sem notar que ao redor existe um mundo que vai além da pasmaceira de um cotidiano cansativo e repetitivo.

Nos apartamentos a vida também segue seu rumo normal. Pessoas limpando as sacadas, no telefone, conversando com o gato, brigando. A fumaça entra e queima tudo que encontra. Que forma mais estúpida de fugir. O sol, que a chuva da manhã inteira escondeu, resolve aparecer e clarear o quarto. O tempo passa com uma lentidão insuportável e agoniante..

Cadê o vinho? A vodka? O Whisky? Cadê as lágrimas que não vêm como uma enxurrada para aliviar a alma? O telefone toca, mas nem a voz conhecida daquela melhor amiga, que há muito tempo não ouve, acalma os nervos.

O convite, a empolgação, a nostalgia dos tempos em que viver era menos corrido, menos estressante, menos dolorido, da vontade de acender outro cigarro e deixar o cheiro e a fumaça impregnar em todas as entranhas do corpo para que, de alguma maneira, telestransporte a alma de volta para o passado ou, quem sabe, para um futuro possível. 

Fico pensando no que faria se soubesse as horas da minha vida contadas ou, ao contrário, tivesse tantos séculos para viver. O que a gente faz com o tempo que tem? Não tenho um relógio que me diz o quanto me resta, mas tenho um relógio que grita dizendo que eu não devo desperdiçar nada.

Quero fugir do presente, afugentar-me no passado e pensar em possíveis futuros. Quero desistir do tempo, esquecer os relógios e seguir perdida no espaço. Aproveitar o que se tem na mão, no momento em que se tem vale tanto quanto séculos de vida. Passo tudo, todos os dias, mas me recuso a viver mediocremente uma vida de operário, de estudante, de dona de casa.

Fumo com a certeza de que amanhã meu pulmão me fará viver menos. Bebo sabendo que embriaguez libera todos os demônios. Seja como for, eu sei que ainda respiro, que o agora já é passado e o daqui um minuto se tornou um futuro presente.


Thaís Teixeira

Um comentário:

Crispi. disse...

Lindo Thaís! E não poderia ter escolhido uma música melhor para ilustrar esse texto.