sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O Diário de Classe e o Facebook

A história e a repercussão da menina de 13 anos que criou uma página no Facebook para relatar os problemas de sua escola e reivindicar melhorias.
O Facebook é um site criado em 2004. Hoje, é a rede social mais popular do mundo e, nos últimos anos, tem sido a preferida entre os brasileiros também. Nele, dá para conhecer pessoas, adicionar amigos, bater papo, postar mensagens, fotos, vídeos e links de outros sites, entre outras utilidades. Há também as chamadas fan pages, que são páginas que qualquer usuário pode “curtir” e receber as atualizações que as páginas oferecem. Um exemplo, ao curtir a página de algum jornal, você vê as atualizações referentes ao jornal, como links de notícias, e pode curtir, comentar e compartilhar com seus amigos. 

Existem várias páginas dessas que são bem populares entre os usuários, desde páginas de celebridades até páginas de humor. Claro que muitas dessas páginas são inúteis e de um senso de humor questionável, como a “Gina Indelicada” ou o “Willy Wonka Irônico”. Mas tudo bem, as pessoas possuem gostos variados e muita coisa dentro do Facebook, assim como de qualquer outra rede social, não deve ser levada a sério. 

Uma página do Facebook que se tornou popular agora e que me chamou bastante a atenção chama-se “Diário de Classe”. Diferentemente dessas páginas dispensáveis do Facebook, essa possui um objetivo bem interessante. 

Essa página foi criada por uma estudante de 13 anos chamada Isadora Faber e ela procura mostrar as dificuldades e as complicações da escola pública em que ela estuda para que reflexões, discussões, medidas e perspectivas de melhoras possam ser apresentadas. A página foi criada em 11 de julho e, após pouco mais de um mês na rede, mais de 100000 pessoas já “curtiram” e, com isso, acompanham as postagens. 

A ideia de Isadora veio quando sua irmã de 24 anos contou para ela que uma escocesa de 9 anos chamada Martha Payne havia criado um blog para criticar a merenda escolar. O que gerou uma repercussão enorme (mais de 1 milhão de visitantes e apoio de todas as partes, inclusive de chefs renomados, como Jayme Oliver) e a escola teve que mudar o cardápio. Fico orgulhoso em ver que uma menina dessa idade tem essa consciência e essa vontade de mudar o ambiente estudantil. E as redes sociais, pela sua popularidade e pela sua acessibilidade podem ser um meio viável de colocar questões que não costumam vir à tona. 
A descrição da página diz: Eu Isadora Faber, tenho 13 anos, estou fazendo essa página sozinha, para mostrar a verdade sobre as escolas públicas. Quero melhor não só pra mim, mas pra todos.” 
Ou seja, ao apresentar os problemas de sua escola e pedir melhorias, a intenção principal é buscar discutir e melhorar a situação das escolas públicas que é problemática em todo o Brasil. 

Isadora Faber procura relatar com mensagens, fotos e vídeos, as questões que assolam a Escola Municipal Maria Tomázia Coelho, localizada na Praia do Santinho. Essas questões, como ginásio de Ed. Física sem cobertura, fiações expostas, falta de ventiladores, bebedouros desativados, aulas precárias (como uma de matemática filmada, em que o professor não têm controle sobre a bagunça feita pelos alunos e ensina de forma bem displicente), falta de professores, maçanetas, janelas, paredes, mesas, cadeiras e portas quebradas, entre outros problemas administrativos, estruturais e pedagógicos. 

Esse espírito crítico e a “fama” adquirida na internet colocou bastante pressão na jovem estudante. Colegas se afastaram de Isadora e são contra as suas atitudes achando que ela está contra eles e a escola. Alguns funcionários e gestores da escola também não gostaram nada dessa iniciativa, e eles reagiram reprimindo e pressionando ela para retirar determinados conteúdos do ar (ameaçando inclusive acionar a justiça para retirar a página). Muitos começaram a lançar olhares de desprezo e a mandar críticas diretas ou indiretas. Isadora já chegou a ouvir da diretora que ela teria que aguentar as consequências do que havia feito. O que me incomoda muito é saber que a instituição preza mais pelas aparências do que pela transparência. Reprimir uma estudante como se ela fosse a culpada pelos problemas do colégio só por ela estar usando a sua perspicácia para observar e divulgar o que anda acontecendo e o que deve ser feito lá é algo muito baixo. Mas o incentivo que ela não possui por parte de alguns membros da escola ela têm de sobra das pessoas que andam acompanhando o “Diário de Classe”. 

Isadora disse que sempre reclamou, mas ninguém tomou nenhuma atitude. Divulgando, além das críticas e represálias, pelo menos deixariam as pessoas mais cientes das situações que precisam ser melhoradas. Ela, tão jovem, já exerce seu direito de cidadania com propriedade, mesmo contra muitos obstáculos. 

A popularidade da página fez com que a secretária de Educação da cidade, Sidneya Gaspar de Oliveira, fizesse algo sobre o assunto. Ela realizou uma reunião com a direção da Escola Municipal Maria Tomázia Coelho para analisar o teor das reclamações da aluna, em conjunto com os diretores de Infraestrutura e Ensino Fundamental, da secretaria de educação. Ela queria que Isadora e participasse também, mas ela estava ocupada e não pode comparecer. 

Primeiramente, acho desnecessário contestar as provas materiais. As filmagens e fotos provam a veracidade dos problemas da escola. Mas apesar dessa “bola fora” e da falta de conhecimento do que propriamente ocorreu nessa reunião, aconteceu algo efetivamente interessante: uma reforma na Escola Básica Maria Tomázia Coelho, onde Isadora estuda. A diretora Liziane Diaz Farias se defendeu das acusações de censura, dizendo que só havia conversado com Mel Faber, mãe da Isadora, sobre a exposição e a repercussão da página e a relação aos outros estudantes com Isadora após os ocorridos. Ela também assumiu as falhas da escola e garantiu que a prefeitura havia feito anteriormente alguns reparos na Maria Tomázia, como a troca de luminárias, mas a manutenção foi condenada por conta de atos de vandalismo. Em nota, a secretária elogiou a atitude da aluna e destacou que “Diário de Classe” funciona como uma espécie de “ouvidoria” para auxiliar a comunicar os problemas. Sidneya anunciou ainda que o professor temporário de matemática da escola, que foi alvo das críticas de Isadora, está passando pelo julgamento de uma comissão formada por membros da secretaria e da instituição e que pode ser demitido. 
Muita gente pode dizer que essa atitude não vai mudar nada de forma efetiva e que a educação pública irá continuar precária e desestruturada em todo o Brasil. Pode até ser, mas se as pessoas ficarem de braços cruzados, nada irá mudar mesmo. Pelo menos é uma tentativa válida. Isadora Faber não é uma revolucionária. Ela é uma jovem querendo apenas o que ela , seus colegas e todos os estudantes de escolas públicas no Brasil merecem: ensino de qualidade.

Felipe Kowalski

Um comentário:

Ana disse...

Eu vi essa notícia e achei muito boa a atitude dela. estudei em escola pública também, e na escola pública se você reclama das coisas que estão irregulares você é isolado, então imagina o que essa menina deve passar, tida como a "encrenqueira" da escola,e mesmo assim ela seguiu adiante, uma luz para todos os estudantes que querem uma educação de qualidade.