sexta-feira, 20 de julho de 2012

O velho medo do novo

A condição humana de sentir medo de novas situações em uma vida controlada pela rotina

O homem convive constantemente com diversas emoções durante sua caminhada. A vida é como uma montanha-russa, existem momentos felizes e tristes. São esses altos e baixos que trazem emoção, afinal, se a linha da vida fica constante, significa que a pessoa está morta.

As emoções de um ser humano não se resumem apenas a felicidade e tristeza. Existem milhares de emoções que, inclusive, são sentidas simultaneamente. Desejo, determinação, dúvida, preguiça, esperança, cansaço, ambição, ciúme... Enfim, há inúmeros exemplos de sentimentos que estão presentes na vida de todos em determinada situação. Mas uma das emoções mais complexas e mais presentes é o medo. Por mais corajosa que a pessoa seja, o medo habita sua vida, mesmo sem que ela perceba com clareza.

O medo extremo é chamado de fobia. Existem vários tipos de fobias: agorafobia (medo de estar em lugares públicos cheios), fobia social (medo de estar exposto diante do olhar de outras pessoas) e fobias simples (aracnofobia, acrofobia...). Um dos mais comuns é o medo do novo. As pessoas costumam sentir medo do desconhecido, de não saber em que território está pisando.

O novo pode ser muito bom, mas é preciso dar o primeiro passo para conhecer e descobrir. Algumas pessoas têm mais facilidade para driblar isso, sentem o frio na barriga e dão a cara à tapa. Outras ficam paralisadas quando é necessário enfrentar a situação desconhecida. Todo esse pavor é causado pelo conforto. A vida segue uma rotina constante e qualquer mudança é motivo de preocupações e temores, porém, como já foi dito, essa constante da linha da vida é justamente o sinônimo de morte. O problema é que as pessoas já são habituadas a buscar estabilidade, querendo ter respostas para tudo e não deixando que haja surpresas no meio do caminho.

O temor do desconhecido culmina com uma questão: o medo de agir e do que os outros vão pensar. Uma questão muito bem levantada pelo meu colega estopiniano Sebastião é que muitas pessoas usam as redes sociais, tão popularizadas nessa era digital, para se promover e se mostrar para o mundo. Em uma sociedade que prioriza cada vez mais as aparências, a grande maioria faz isso de uma forma quase "neutra", com receio de colocar suas opiniões verdadeiras e críticas, por conta do medo de réplicas, discordâncias e julgamentos. O mundo deveria prezar pela diversidade de opiniões e pela capacidade de apreciar o frio na barriga das situações de risco, mas não é o que normalmente acontece.
Uma frase de Clarice Lispector explica bem essa questão do medo do novo: "Tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação".
Paradoxalmente, porém, há outra frase de Clarice que fala sobre procurar se desvencilhar do medo e ir ao encontro de novas experiências na vida: "Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento".

Ou seja, todos temos medo de agir em algumas situações que exploram o novo, mas temos que superá-los em algumas ocasiões para podermos aproveitar plenamente a vida. O cotidiano e a acomodação não podem dominar o homem por completo, a esperança de boas novas e a criatividade é que devem tomar mais espaço. 
Vem cá ver que o novo é bom. Pode amedontrar, te atropelar, te desgovernar". (trecho da música “O Novo” da banda Medulla).
Felipe Kowalski

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