quarta-feira, 4 de julho de 2012

Defeito de Fábrica

Risco no bloquinho amarelo um emaranhado de linhas descontinuas, traço vários caminhos que não se encontram, não fazem sentido, não entram em harmonia com os rabiscos. Olho o céu cinzento, sinto o vento frio, bebo goles e goles de água para controlar a ansiedade, nada se encaixa. 

A música toca como se quisesse entrar no meu coração e dizer "Pare de deixar pedaços seus pelo caminho." De fato, espalho muitos pedaços meus e sei que não posso voltar para juntá-los, nunca posso. Meu pecado é sonhar demais, sentir demais, envolver-me demais, gostar demais. Erro ao querer tudo ao mesmo tempo. 

Fujo mentalmente para um lugar qualquer onde consigo ficar por cinco segundos até ser invadido por lembranças, desejos e emoções. Repito infinitas vezes que não vale a pena perder o foco, desviar o caminho, mudar de planos, pular para o incerto. Só que o bloquinho amarelo vai para o lixo depois de ser riscado, o céu não fica sempre cinzento, a estação muda, a noite vira dia, a música é trocada, os erros e pecados são absolvidos. 

A fuga é inevitável quando as páginas dos livros são exploradas, as invasões são como uma doença crônica e as repetições se cansam no final do dia. Acabo a garrafa de água e me permito deixar mais alguns pedaços de mim por aí.

Thaís Teixeira

Um comentário:

Marcelle Fernandes disse...

AMEI!