quinta-feira, 5 de julho de 2012

A Bossa na UTI - João Gilberto não deixou herdeiros

No alto dos seus 80 anos, que não foram comemorados com o público em função de que o aniversariante cancelou, sem explicar os motivos, a sua turnê que estava agendada para o fim de 2011, o pai da Bossa Nova, João Gilberto, ainda não cumpriu totalmente a sua missão. 

Apesar de sua filha, com a também cantora Miúcha, a nova iorquina Bebel Gilberto, ter orbitado algumas vezes pelo gênero musical criado no final da década de 50 – e ter gravado alguns de seus principais sucessos como “Bim Bom”, releitura que teve o acompanhamento de Daniel Jobim -, a herdeira do pai da Bossa Nova engendrou por outros gêneros musicais ao longo de sua carreira – vale lembrar que Bebel, assim como João, também compôs letras de sucesso como “Eu preciso dizer que te amo”, em parceria com o amigo Cazuza, e “Mais feliz” eternizada na voz da gaúcha Adriana Calcanhoto.

Roberta Sá, Paulo Jobim e Fernanda Porto até ensaiaram algumas passagens pela Bossa, mas não trouxeram nenhuma novidade além de velhas regravações de seus clássicos e novos sambinhas que apenas se aproximam do gênero criado por Gilberto e eternizado por Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Nara Leão e, também, com a colaboração do ex-cunhado de João, o mestre Francisco Buarque de Holanda (da segunda geração da Bossa). As composições não se renovaram desde a morte de Jobim, em 1994, e o que se vê – ou se ouve – são regravações com pequenas variações de interpretação.

Nem mesmo o estilo incomparável de Elis Regina, que poderia ter sido perpetuado através da semelhante e afinada voz de sua filha, Maria Rita, contribuiu para que a Bossa Nova estivesse presente através das novas gerações de intérpretes brasileiros.

Sem herdeiros legítimos, a bossa, que fez surgir a canção brasileira mais conhecida em todo o mundo, Garota de Ipanema (que em 2012 completou 50 anos), corre o risco de morrer por falta de renovação. Triste fim para o estilo musical que se tornou patrimônio mundialmente conhecido da cultura brasileira.

Leonardo Contin da Costa

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