domingo, 22 de julho de 2012

Aconteceu numa segunda-feira

Era uma segunda-feira comum para as 130 mil pessoas que passam todos os dias pelo Terminal de Ônibus do Centro (TICEN), em Florianópolis: estava de sol, as pessoas andavam com pressa e o barulho dos ônibus que entravam e saiam das plataformas era ensurdecedor. Até o momento em que Mateus Costa, do grupo A Corda em Si, apoiou o seu contrabaixo de dois metros no chão, arrumou a caixa de som e a voz de Fernanda Rosa começou a ecoar pelo terminal.

Durante mais de 3 horas, a dupla apresentou músicas como “Leãozinho”, “Se essa rua fosse minha”, “Kid Cavaquinho” e fez com que várias pessoas parassem, nem que fosse pra ouvir um pedacinho, aplaudir ou ficar ali durante a tarde inteira. A apresentação, além de ser um sonho da dupla, fez parte do vídeo que eu fiz para a disciplina de Tecnologia em Telejornalismo do curso de Jornalismo da UFSC.

A ideia surgiu das minhas andanças por Nova York. Lá, é muito comum ver grupos de hip-hop, músicos que fazem seus instrumentos a partir de sucata e cantores gospel cantando pelos túneis do metrô. O mais legal é que eles são apoiados pela prefeitura, que, em virtude do sucesso que eles fazem, criou o projeto Music Under NY, que ajuda os artistas de rua. Daí eu pensei: porque não fazer alguma coisa parecida em Florianópolis?

Como trabalho no Núcleo de Comunicação do Centro de Artes da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), sabia que vários grupos de lá topariam tocar no terminal de ônibus. Mandei e-mails, fiz ligações e quatro bandas ficaram animadas com a ideia. Já conhecia o trabalho do grupo A Corda em Si e como eles comentaram comigo que um dos sonhos deles era tocar pra gente passante, decidi que eles seriam as minhas cobaias. Daí começou a corrida pra ver se tudo isso era de acordo com a lei: escrevi um ofício para o Secretário de Transportes e fui conversar com o pessoal da Cotisa, que administra os terminais de ônibus. Pra minha surpresa, eles não colocaram nenhum impedimento. Pronto, a data, a hora e o lugar estavam marcados. Era só começar a filmar.

Foram mais de 60 minutos filmados e que resultaram em um vídeo de quase 3 minutos. O que este documentário revela são os sorrisos, os olhares curiosos e a reação das pessoas que estavam a caminho do trabalho, da escola ou de casa, mas que pararam por um minuto para ouvir uma boa música.

Ah, esqueci e dizer! Além de parceiros na música, os dois também são companheiros na vida: namoram há três anos e enfrentam, juntos, a deficiência visual. Mateus descobriu que sofria de cegueira noturna aos 14 anos. Fernanda já nasceu com problemas de visão, mas ainda enxerga 13%, o que permite que a cantora distinga as cores. Mesmo que não tenham visto a quantidade de gente que parou para prestigiar a apresentação deles no terminal de ônibus, Fernanda me contou que deu pra sentir a energia das pessoas. E é isso que importa, não é mesmo?

Bruna Carolina

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