segunda-feira, 18 de junho de 2012

Teorias, crônicas e jornalismo

Existe uma coisa horrível, do ponto de vista profissional, que só a universidade ensina: a teoria. Você não vai precisar saber o que Adelmo Genro Filho escreveu em "O Segredo da Pirâmide" para escrever uma matéria e, ironicamente, também não vai precisar lê-lo para apresentar um seminário se já trabalhar em uma redação (mesmo que seja só atualizando agenda e fazendo resumo dos capítulos da novela).

Digo que a teoria é ruim porque se você leu "O Segredo da Pirâmide" e trabalha no jornal, todas aquelas ideias conspiratórias como "cuidado! Você está sendo manipulado" começam a dominar sua cabeça e aí você, inevitavelmente, vai enxergar a cozinha do restaurante (dizem que quem conhece a cozinha de um restaurante nunca mais quer voltar lá).

Saber as teorias é interessante, do ponto de vista pessoal. Seu intelecto aumenta e você descobre mares nunca antes navegados nas páginas dos livros. Mas isso é só da porta da sala-de-aula para dentro. Do lado de fora a história é outra. Há um fosso entre a teoria e prática lá na universidade. Temos os livros do Adelmo, sabemos tudo sobre os vários tipos de lead, mas cadê a aplicação de todo esse conhecimento? Com certeza, iria me satisfazer se o professor terminasse o seminário, nos entregasse uma pauta e nos permitisse brincar com a fascinante arte de ser repórter.

O editor do jornal não está interessando sobre o que você conhece de Teorias do Jornalismo, e o leitor também não quer sabe o que você aprendeu para ter aqueles mil caracteres bem escritos na página 4 do jornal. E agora José? A festa acabou? Nada José! Ela mal começou.

Nós, jornalista e revolucionários, não precisamos salvar o mundo. Se conseguirmos salvar a nós mesmos do mundo já está de bom tamanho. Mandamos às favas o "O Segredo da Pirâmide" e vamos até o Egito descobrir os segredos das pirâmides de lá! Exageros a parte, é esse o bom jornalismo: aquele que é, realmente, vivido.

Meio a contra gosto e um tanto decepcionada, descubro que as teorias não ensinam a fazer jornalismo. Elas não dão a fórmula de uma boa entrevista, de como fazer uma investigação, conseguir uma pauta ou digitar o ponto final de uma matéria que pode derrubar o presidente dos Estados Unidos, como Justin Hoffman e Robert Redford fizeram, brilhantemente, em "Todos os Homens do Presidente", história real do caso de Watergate, vivida por dois repórteres reais do Washington Post, Carl Bernstein e Bob Woodward.

Encerro essas minhas divagações acadêmicas da forma mais clichê possível: com uma citação. Enquanto lia o livro de crônicas "Nós Passaremos em Branco", do jornalista Luís Henrique Peleando, uma crônica, em especial, chamou minha atenção e foi o Estopim para esse texto. Ela se chama "Me Publica ou Te Mato".

Em linhas breves, Luís Pelanca conta um episódio que viveu enquanto trabalhava no jornal Primeira Hora, em Curitiba. Fumante, descia constantemente para tragar alguns cigarros na rua. Em frente à escada tinha um boteco e um chinês que lhe passava maços de cigarros e lhe contava uma charada, que eu vou roubar para me despedir: você sabe qual é a diferença entre você e o golfinho Biagi do Yangtzé?

O chinês só respondia metade da pergunta: golfinho Biagi do Yangtzé sobe para respirar. E eu? No caso, e o Jornalista? Peleando concluiu o resto "Eu ainda não estou extinto".

E o que diabos o golfinho do Yangtzé tem a ver com teorias, o Adelmo e o jornalismo? Ainda estou tentado descobrir. Só espero chegar a alguma conclusão antes da extinção.

Thaís Teixeira

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